Domingo, 13 de Outubro de 2024

História de Esperança Garcia é retratada em filme por maranhense

Publicado em 08/06/2019
Por Jailson Dias
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Atriz interpreta Esperança Garcia na infância/Divulgação "Esperança"

Em uma ficção performática, o curta “Esperança” (16 minutos) imagina Esperança Garcia louvando seus ancestrais no litoral maranhense, traz tambor de crioula, toadas de bumba meu boi e faz seu trajeto pela favela, até chegar ao interior do Piauí e escrever uma carta denunciando os maus tratos que sofria.

Dirigido pela timonense Carmen Kemoly, que vive na fronteira Timon – Teresina, e atualmente faz mestrado em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o filme buscou resgatar a chegada de Esperança no Brasil e reforçar a conexão histórico-cultural entre o Piauí e o Maranhão.

“Já tem um tempo que viemos acompanhando a vida de Esperança Garcia. Há na história, uma grande probabilidade de seus antepassados terem chegado em solo piauiense a partir do Porto de São Luís, que recebia muitas pessoas escravizadas na época, até chegarem em Oeiras, antiga capital do Piauí. Como maranhense, quis trazer um pouco desse contexto, anterior à carta. Uma forma de pensarmos também sobre esse nosso território de potência que é o Meio Norte do Brasil”, explica Carmen.

Esperança Garcia foi uma mulher negra piauiense escravizada, que em 1770 escreveu uma carta denunciando todos os tipos de agressões que sofria. O documento chegou a ser reconhecido recentemente pela Ordem dos Advogados do Piauí.

“Fazer o roteiro e dirigir ‘Esperança’ foi um marco pra mim enquanto mulher preta que acredita na mudança das narrativas e imagens que têm sido proferidas do povo preto dessa nação. Foi a primeira vez que eu gravei somente com mulheres e negras”, relata Carmen.

O curta “Esperança’ é uma parceria com o Coletivo Labcine, que tem como proposta selar parcerias de audiovisual independente no Piauí e Maranhão. O filme será exibido no dia 12 de setembro no Terreirus Clube, em Timon (MA).

Mulheres negras no cinema

Em 2016, a Ancine (Agência Nacional de Cinema) divulgou uma pesquisa sobre diversidade de gênero e raça no mercado audiovisual brasileiro.

Baseada nos 142 longas-metragens brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição neste ano, a pesquisa apontou que homens brancos dirigiram 75,4% desses filmes. Mulheres brancas, 19,7%. Homens negros dirigiram 2,1% das obras analisadas, e nenhuma foi dirigida ou roteirizada por uma mulher negra.

Na análise do elenco, quando se trata de mulheres negras, a presença é muito menor, chegando a apenas 5% dos profissionais nessa função. O total de pessoas negras representa 13,3% do elenco geral, em contraponto aos 54% que representam na população brasileira.

A desigualdade racial e de gênero no cinema motivou a Casa das Pretas do Rio de Janeiro lançar o Projeto Itans, do qual a timonense Carmen Kemoly fez parte. O projeto resultou em um laboratório imersão de roteiro para mulheres, onde, durante o primeiro semestre de 2019, quinze mulheres negras tiveram oficinas formativas e de técnica cinematográfica, para elaboração de seus roteiros e desenvolvimento dos filmes. Cada participante fez um curta metragem de pelo menos cinco minutos.

No curta “Esperança”, tanto no elenco, quanto as operadoras de câmeras, as produtoras e responsáveis pela fotografia são mulheres negras. “Pode parecer pequeno ou simples, mas esse é um fato muito importante. O olhar de mulheres, principalmente sendo pretas, sobre si mesmas e suas realidades; faz com que os sentidos das narrativas mudem”, relata Kemoly.

Uma audição feita em São Luís selecionou a atriz que interpretou a Esperança ‘jovem’. Mesmo sendo uma produção independente, oito atrizes se inscreveram. “Muitas delas não conheciam a história de Esperança, e passaram a conhecer a partir daquele momento. Tudo isso é muito gratificante”, comemora a diretora e roteirista.

Da Redação
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