Domingo, 16 de Novembro de 2025

ARTIGO: Assim caminha a humanidade!

Publicado em 06/07/2015
Por Marta Soares
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Inicio de noite, sexta-feira, às portas do final de semana. Ambiente propício para um passeio ao ar livre, curtir aquele bate papo com os amigos, tomar uma cerveja, uma dose de whisky, comer uma pizza, quiçá uma picanha. “Prefiro apenas um suco de açaí”, manifestou Nietzsche, o companheiro que ocupava o assento a direita, na mesa, que, além do meu, tinha mais dois lugares. A esquerda estava um jovem senhor esquivo, de olhar arregalado, inquieto que atende pelo nome Rousseau. Disse que iria tomar uma boa dose de cachaça e foi logo chamando o garçom. Face a face comigo postava-se um dos discípulos de Rousseau, um gracioso amigo, assim como os outros que me acompanhavam naquele momento, Immanuel Kant. Na realidade, tratava-se de um feliz encontro e o que não faltava era ideias para discutirmos.

O centro das discussões foi o homem diante da ignorância, do preconceito, da ausência de ética, moral e, sobretudo, de respeito para com os outros. “O homem, por natureza, não é um ser social. No entanto, com a convivência, vai, ao mesmo tempo, aperfeiçoando sua razão e transformando seus sentimentos de amor em egoísmo e indiferença para com seu semelhante, criando tanto os vícios como as virtudes. Assim, os vários acasos que aperfeiçoam a razão humana corrompem o homem,” afirmou Rousseau. Para o autor do Contrato Social, o homem é filho de seus costumes, do conhecimento ou da ausência do mesmo; fruto da ignorância que se deixa abater pela ganância, do passar por cima de tudo e de todos para conseguir colocar as duas mãos sobre os metais que, por muitas vezes, não lhe pertence e muito menos lhe é merecido. É a chamada sede de poder.

Já Immanuel Kant foi enfático: “Só a disciplina (educação) transforma a animalidade em humanidade. Só ela é capaz de promover a saída do estado de natureza para o estado de cultura. Somente a educação sob o efeito do esforço e do trabalho faz um indivíduo. Ter caráter é mais importante do que possuir instrução”. Para o metafísico alemão, só o conhecimento ou a ausência dele não é capaz de fazer do homem um ser sociável. Carece de perseverança, de convicção espiritual para saber fugir dos atos que lhe desfigura o rosto, ante a falta de valores que dignificam a vida em sua plenitude. Na falta desses, está condenado a alimentar o lobo que habita o seu ser e a rasgar a carne fresca que fará jorrar sangue quente pelos vales errantes.

“O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar,” provocou Nietzsche. Nesta perspectiva, o homem carrega consigo o bem e o mal. Define-se como um animal peçonhento, não confiável, traiçoeiro; um ser oscilante entre a razão e a emoção; entre Deus e o diabo; a paz e a guerra. E conclui – seguido de uma tragada de whisky que, como labareda avassaladora, rasgou a goela e um rastro de fogo se instalou em seu estômago - dizendo que: “quem anda ao redor da chama dos ciúmes, acaba igual ao escorpião, que faz voltar contra si mesmo o aguilhão envenenado”. Nada além.  

Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa – Portugal. Email: frassis88@hotmail.com

 

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