Sábado, 12 de Outubro de 2024

Jovem picoense se revolta contra assédio das ruas; advogada explica o que fazer nesse caso

Publicado em 19/03/2015
Por Jailson Dias
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Estudante e advogada falam sobre prática das "cantadas" nas ruas/Arquivo pessoal

O tema sempre será polêmico e alvo de grandes discussões: as famosas “cantadas” recebidas pelas mulheres enquanto passam pelas ruas. Para os homens não há problemas com essa prática, pois acreditam estar estimulando o ego das mulheres, mas para a maioria delas a coisa não funciona assim. A estudante de direito na Faculdade R.SÁ, Joicyara Lima, usou as mídias sociais para expressar a sua revolta quanto a essa atitude demonstrada por representantes do sexo masculino.

Em entrevista ao Folha Atual Joicyara declarou que caminhar pelas ruas de Picos chega a ser um “sacrifício” e que as mulheres são submetidas a “tortura psicológica”, vistas apenas como objeto. Ela disse que o assédio não está ligado necessariamente a uma questão de beleza física, basta ser mulher, independente da idade, pra ser desrespeitada. “Já vi mulheres com idade avançada sofrendo o mesmo constrangimento”, comentou.

Joicyara diz ainda que os homens que assediam uma mulher na rua deveriam notar que nem o local nem o momento são adequados, uma vez que elas, assim como todo mundo, estão ocupadas, indo ao trabalho, dentre outras obrigações. “Eles deveriam parar para pensar o que passa na cabeça daquela mulher que sai do trabalho na hora do almoço, sol quente, cansada”, frisou.

A estudante de direito acredita que deveria haver uma legislação específica para tratar desse caso, que também seria resolvido com educação, não dispensando o uso da punição seria necessária. “Conscientização e punição. Uma vez vi uma matéria que uma feminista falava que não merecia ser estuprada quando andava nas ruas. Sempre vi mulheres falando que não se sentia bem com aquela situação e que começaram a usar fone de ouvido para tentar fazer que aquilo passasse despercebido”, frisou.

O que diz a Lei

Segundo a advogada Fátima Miranda, as “cantadas” dirigidas contra as mulheres quando passam na rua não podem ser tipificadas como assédio sexual, considerado crime, uma vez que o agressor busca alguma vantagem sexual contra a vítima, no entanto, essa prática não deixa de ser ilegal. Se uma mulher se sentir ofendida em sua honra ela deve procurar a delegacia para denunciar o caso e esperar que a polícia tome providências.

“Se sentir constrangida ela deve denunciar e tais comportamentos são tipificados em nossa legislação penal, que pode enquadrar tais atos desde uma contravenção penal, com sanção mais branda, até crimes contra a honra, com penas mais severas”, explicou a advogada.

Fátima Miranda lembrou ainda a campanha “Chefa de Fiu Fiu”, realizada no Brasil no ano de 2013. Na ocasião foi promovida uma pesquisa com 7.762, das quais 83% declararam não gostar de “cantadas” e 81% já deixaram de passar por algum lugar por medo do assédio. Ainda segundo esse levantamento, 90% já trocaram de roupa antes de sair de casa por medo de provocações.  

Comentários
Jaqueline Figueredo
19/08/2015 12:11:24
Parabéns pela matéria. Super curti. Infelizmente o assédio moral é uma constante na vida das mulheres. Quantas e quantas vezes mudei de calçada, mudei a rota do trabalho, da faculdade e de outros lugares só para não ter que passar por tais constrangimentos?? Não podemos sair nem na calçada de casa que homens, desde adolescentes até os mais idosos, jogam suas piadinhas, em formas de cantadas ou até mesmo ofensivas. E nós mulheres? O jeito é baixar a cabeça e seguir, porque se formos rebater corremos o risco de apanharmos e até mesmo sermos estupradas. Passei recentemente por um caso que me deixou revoltadíssima. Concordo demais com a Joicyara: deve sim haver uma legislação mais rígida quanto a esse tipo de atitude, que para a Constituição não é crime, mas deveria sim ser considerado, pois se trata de ofensa, degradação moral e psicológica de outra pessoa.