Dezenove de outubro é feriado em nosso estado. É o Dia do Piauí. Uma data midiaticamente exacerbada e bem discutida, principalmente nas escolas públicas estaduais. Nos currículos escolares do Piauí há conteúdos exclusivos para a discussão acerca desse dia. Nos áureos períodos do finado vestibular das universidades públicas do estado: esse conteúdo também era cobrado.
Nesse dia o hino do estado, de autoria do célebre poeta Antonio Francisco da Costa e Silva (o Da Costa e Silva), é exacerbado, é exaltado, como a própria letra traz em seus versos. O Piauí é a “terra querida, é a filha do Sol do Equador”. É um dos hinos mais bonitos do Brasil. Uma justa homenagem para a nossa terra.
Pena que quase ninguém saiba cantar e muito menos refletir o que há em nosso hino. Pena que poucas e poucos saibam por qual motivo a data do 19 de outubro é comemorada em nosso estado.
Aliás, este ano muitas autoridades de vulto esqueceram até de participar das solenidades da data.
Por sinal, 19 de outubro, é muito polêmica, já que muitos defendem que a verdadeira data do Dia do Piauí era para ser 13 de março, dia que culminou com a Batalha do Jenipapo, em Campo Maior, único conflito sangrento pela independência do Brasil.
A data de 19 de outubro é historicizada porque foi nesse dia que a então vila de São José da Parnaíba (hoje Parnaíba) declarou independência de Portugal. Foi o primeiro grito, 42 dias depois de São Paulo (feito às margens do riacho Ipiranga) de independência piauiense dos julgos dos colonizadores portugueses.
Mas temos o que comemorar? Claro que sim. Mas as comemorações sobre o Dia do Piauí deveriam ser de reflexão, pois o nosso estado é uma das mais paradoxais unidades federativas do País.
O Piauí tem belezas naturais espetaculares como o nosso litoral, o único Delta em mar aberto das Américas, o Parque Nacional de Sete Cidades, as belezas de Pedro II, a carne de sol de Campo Maior, Teresina e sua exuberância, o mel de Picos, as belezas históricas de Oeiras, os espetaculares parques nacionais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões...e só para citar alguns poucos, senão passaria horas escrevendo o que temos de bom em nosso estado.
Mas o principal patrimônio do nosso estado é o seu povo!
Desculpem as amigas e os amigos de outros estados, muitos desses extremamente gente boa, mas pessoas melhores do que as do Piauí: você não encontra em nenhum lugar do Mundo.
O piauiense é mais que solidário, é mais que amigo, é mais que “pau para toda obra”.
São essas pessoas o maior patrimônio do estado e são essas que merecem ser respeitadas e exaltadas não só no 19 de outubro, mas também em todos os outros 364 dias do ano.
O povo do Piauí merece respeito por parte dos poderes públicos. Merece melhores hospitais, unidades de saúde que funcionem e tenham atendimento humanizado. Merece escolas que edifiquem cidadãos, que formem seres pensantes e articulados para as melhorias sociais. Merece mais segurança e um combate ao tráfico de drogas que tanto teima em querer destruir milhares de famílias do nosso estado. Merece mais diversão e arte.
Feliz Dia do Piauí, dia hoje, amanhã, depois e depois. Que tenhamos um Piauí cada vez mais emancipado, respeitado e irmanado!
Orlando Maurício de Carvalho Berti
Jornalista, nascido e criado no Sertão do Piauí, andando e conhecendo um série de faces e interfaces na região de Picos. Professor efetivo (Adjunto I – DE), pesquisador e extensionista do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo da UESPI – Universidade Estadual do Piauí. Estuda atualmente fenômenos comunicacionais ligados ao Sertão nordestino. Ex-professor e pesquisador dos cursos de Jornalismo da UESPI de Picos e da Faculdade R.Sá. É doutor em Comunicação Social pela UMESP – Universidade Metodista de São Paulo – por onde também é mestre na mesma área. Fez recentemente estágio doutoral na Universidad de Málaga, na Espanha.