Nas últimas semanas, o Piauí voltou a se chocar com a notícia de mortes súbitas de jovens em decorrência de problemas cardíacos. No último mês de julho, o fisiculturista teresinense Edson Ferreira, de 40 anos, sofreu um infarto fulminante, pouco após um treino de musculação. No último sábado (20), Pedro Viana, de 22 anos, morreu após sofrer uma parada cardíaca durante um jogo de futsal. No dia seguinte (21), a adolescente Anne Marie, filha da modelo piauiense Schynaider Moura, faleceu aos 16 anos, após sofrer uma parada cardíaca.
No caso de Edson Ferreira, que era fisiculturista e tinha hábito de fazer exercício físico, o ataque cardíaco foi causado por uma miocardite hipertrófica, desordem genética que é a principal causa de morte súbita abaixo dos 35 anos no esporte. Edson não sabia que tinha a doença e a condição só foi descoberta em exames feitos após sua morte.
Pedro Viana, de 22 anos, também era atleta, e ainda não se sabe o que provocou ou agravou sua saúde cardiovascular, levando à uma parada cardíaca. A morte de Anne Marie, de 16 anos, envolvia circunstâncias prévias atenuantes. A garota havia passado por um transplante de coração em junho de 2022, procedimento necessário após diagnóstico de cardiomiopatia dilatada, doença que enfraquece o músculo cardíaco e que pode levar à insuficiência cardíaca.
Casos como esses, que antes eram considerados exceções e raridades, vem se tornando cada vez mais frequentes e preocupam especialista. O cardiologista Elisiário Júnior explica que os números observados nos últimos anos confirmam a percepção de que o coração dos jovens está cada vez mais vulnerável.
“Nos últimos dez anos, houve um aumento de 150% nas incidências de ataques cardíacos em jovens”, alerta o médico. Ele aponta que, mesmo com a expansão em academias em todo o Brasil, a maioria da população jovem ainda não adota uma rotina ou um hábito frequente de exercícios físicos. “Hoje, 56% dos jovens são sedentários, principalmente os homens”, ressalta.
Outro fator que chama a atenção é o uso indiscriminado de cigarros eletrônicos e vapes e o consumo de hormônios, tanto em anabolizantes para ganho de massa muscular, quanto em medicamentos como anticoncepcionais, no caso das mulheres. “Essas substâncias têm papel fundamental no crescimento dos problemas cardíacos que estamos vendo nessa geração”, explica o médico.
Além dos hábitos modernos, condições pré-existentes também ampliam os riscos, Segundo Dr. Elisiário, muitos jovens desconhecem que possuem doenças cardíacas congênitas ou histórico familiar, o que acaba favorecendo as complicações. “No Brasil, 50% população nem sabe que é hipertensa, e mais de 30% dos hipertensos não têm a pressão arterial controlada”, afirma.
Prevenção e acompanhamento médico
O atual cenário nacional reforça a gravidade do problema. Cerca de 400 mil pessoas morrem por ano no Brasil, em decorrência de ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral (AVC) – é o equivalente a uma morte a cada dois minutos. Para o Elisiário Júnior, a prevenção passa por uma mudança de hábitos e também pelo acompanhamento médico que é considerado antecipado, mas que, na verdade, é feito na hora certa.
“Para quem não possui fator de risco conhecido, como as condições congênitas, ou histórico familiar, o ideal é iniciar o acompanhamento cardiológico aos 35 anos. Já para os que têm casos na família ou fatores agravantes, como hipertensão precoce ou uso de substâncias, o recomendado é começar com 21 anos”, orienta o profissional.
Os recentes casos de morte súbita no Piauí e no Brasil têm servido de alerta para famílias e profissionais de saúde. Cuidar do coração deixa de ser uma preocupação do público da terceira idade e, cada vez mais, a juventude tem sido orientada a estar atenta aos sinais do corpo, às escolhas do dia a dia e, principalmente à importância de procurar acompanhamento médico, antes que seja tarde.
Fonte: Portal O Dia