POR DOUGLAS NUNES
(Nos cem anos de nascimento do poeta, jornalista, escritor e professor, Alberto de Deus Nunes, registramos aqui algumas informações sobre a sua vida).
Alberto de Deus Nunes nasceu no lugar Lagoa Grande Município de Picos, no dia 25 de abril de 1913. Na adolescência dedicava-se à confecção de livros e outros manuscritos que encontrava. Costumava refugiar-se, ora em seu quarto, ora à sombra das árvores na companhia de livros, compenetrado em instruir-se e apurar ainda mais a leitura. Sobraçava livros, almanaques emprestados. Copiava dicionários inteiros aperfeiçoando assim sua grafia e seu saber.
Vivia a discursar horas a fio, como se estivesse diante de uma multidão. Seu pai, Benedito de Deus Nunes, tinha modesta barbearia na sala da frente, na hoje atual Av. Getúlio Vargas, casa localizada exatamente em frente ao Fórum de Picos. Os fregueses ouviam os discursos daquela criança e saiam convencidos de que ali estava um caso triste de debilidade mental. Era difícil convencer as pessoas incrédulas do lado certo das coisas, naqueles tempos idos.
Em 1932 parte para Fortaleza, sobraçando livros e cavalgando um jumento, porém com lágrimas nos olhos. É nessa época que a efervescência incontida da verve começa a desabafar suas libações artísticas, num cenário nada poético do Nordeste.
Em 1937 é contratado pela Vila de Jaicós, distante 50 quilômetros de Picos, para lecionar. É nessa escola simples que trava amizade com Honorina Coelho de Andrade, a qual também lecionava. Casa-se com a professorinha em meados de 1937.
Contudo, como ele mesmo afirmava: -“A felicidade não é deste mundo”, no dia 24 de junho de 1939 morre Honorina, possivelmente de uma hemorragia pós-parto.
Em 1946 viaja à Capital Federal, onde trabalha por três anos como correspondente na Empresa Americana Park-Davis Corporation. Retornando a Picos em 1949 trazendo na bagagem um novo e revolucionário conceito jornalístico e procura empreender em sua cidade, com a fundação do Jornal “A Ordem”, juntamente com outros idealistas da época. Em suas páginas artigos pujantes e crônicas excitantes transformaram o mundo intelectual e os valores sociais dos administradores, isto é, passam a ter nova visão, com soluções objetivas, edificantes e não apenas divagações semânticas como era de moda.
Tinha várias idéias revolucionárias para a época, uma delas seria a construção pelo governo federal de uma linha férrea ligando Petrolina a Teresina.
Em 1952, como funcionário federal, foi designado a fiscalizar as aplicações de provas no Ginásio de Picos. Confiando no diretor e professores, rubricava com antecedência as folhas oficiais das provas. Sentindo que estava sendo enganado, recusou-se a rubricar as provas. Este fato acarretou-lhe sérios dissabores. Foi ele insultado, humilhado. Fizeram um caixão e cobriram-no de pano preto com uma cruz à frente, como um enterro, levando até em frente à sua casa, na hoje atual rua Francisco Santos. Tachando o professor, o jornalista, o poeta, o escritor Alberto de Deus Nunes de analfabeto, entre outras coisas.
“O texto do Padre David Ângelo Leal escrito em 1987 é arrasador! Ele foi muito feliz em suas colocações. Narrou com detalhes o episódio, a passeata, os xingamentos, as batidas fortes na porta. A rua encheu-se de gente num tumulto apavorante.
Em 1953 veio a transferência para a cidade de São Simão, no interior do estado de São Paulo. Enfrentando todo tipo de dificuldade, parte Alberto Nunes com toda a família para o desconhecido, para uma região onde predominava o frio, em temperaturas abaixo de 0º, castigando furiosamente os viandantes desavisados do frio, além, sobretudo, do preconceito aos nordestinos, mormente existente nas escolas do interior do estado de São Paulo naquela época.
Acerba dor da saudade, então, se abate sobre o poeta e na dor pungente, escreve lindos versos dedicados à sua terra natal, encerrando contatos com a família amada, pais, irmãos e irmãs, seu lar fagueiro, o seu rio Guaribas de águas cristalinas, enfim, de seus ideais e de seus leais amigos.
Em 1968, residindo à Rua Dom Antonio de Melo, nº 93 no Bairro da Luz, na capital paulista, Alberto Nunes funda o jornal “Alvorada”, semanário de assuntos fiscais e literários que circulava de terça à sábado.
Temente a Deus, Criador de todas as coisas, Alberto de Deus Nunes começou a morrer numa igreja, a de São Cristóvão na Av. Tiradentes, em São Paulo. Foi encontrado passando mal dentro daquele templo. Levado para hospitais, não encontrou recursos que o salvassem da morte. Faleceu no dia 13 de abril de 1969. Em seu sepulcro há o registro em latim que ele conhecia tão bem: “Amicus Plato, sed magis amica veritas” que quer dizer: Sou Amigo de Platão, mas sou muito mais Amigo da Verdade!