Terça-Feira, 15 de Outubro de 2024

Mãe de Iasmim atribui recuperação da filha a sucessão de milagres

Publicado em 16/09/2016
Por Jailson Dias
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Iasmim ladeada pelos pais, Francisco Xavier e Cristiane Santana/Edson Costa

Para Cristiane Santana de Sousa Lopes, não há dúvidas, a recuperação da filha, Iasmim Santana Xavier Lopes, foi um sucessão de “milagres”. Desde agosto de 2016 que a vida de jovem, que tem apenas 12 anos, esteve sob constante risco em decorrência de um grave problema de saúde, cujos sintomas se iniciaram com dores nas costas, culminando com um acumulo de líquido nos pulmões, o que obrigou a criança viver com drenos afixadas em seu tórax por quase sete meses. Ela retornou para Picos na última sexta-feira, 24.

Cristiane Xavier recebeu o Folha Atual em sua residência e relatou toda a “Via Crúcis” vivida pela família durante esse período, quando por várias vezes parecia que ela e o marido, Francisco Xavier Lopes, perderiam a filha. Mas, em momento algum o casal esmoreceu, e conforme frisou várias vezes durante a entrevista, Cristiane ressaltou que lutaria pela vida de Iasmim de todas as formas possíveis.

Após uma série de exames solicitados por médicos locais, o casal levou Iasmim para Teresina, em setembro de 2016. Lá ela permaneceu por dois meses internada, passando por procedimentos cirúrgicos e exames, sem que se chegasse a causa da doença, que estava enchendo os pulmões dela com “líquido pleural”.

Por várias vezes os médicos levantavam a possibilidade de câncer, o que levava os pais à beira do desespero. Foram quase dois meses na capital, até a  tomada de uma decisão difícil: Iasmim teria de ser removida para São Paulo para continuar viva. Foi então que teve início a campanha “Ajude a Iasmim”, que ganhou as redes sociais e foi amplamente divulgada pela imprensa picoense.

Muitas pessoas contribuíram como podiam, às vezes as doações eram financeiramente pequenas, mas serviam, pois uma nova batalha se avizinhava. Cristiane menciona ainda que mais do que o dinheiro, pesaram a favor de Iasmim as orações e a torcida, não só do povo de Picos e região, mas até de outros estados brasileiros. “Foi uma surpresa, ficamos assustados, mas diante do desespero, quando não víamos saída para salvar a vida da nossa filha, enxergamos essa campanha como uma luz”, declarou Cristiane.

Para que Iasmim fosse transferida para São Paulo, ela precisava ser transportada em um avião especial. O preço da viajem estava orçado em R$ 100 mil, sem mencionar a diária em um hospital particular, como o Sírio Libanês ou o Albert Einstein que exigem um depósito inicial de R$ 120 mil para internação.

O dilema os consumia e um médico teresinense chegou a sugerir um procedimento drástico, aplicar um pó especial no pulmão de Iasmim para secar o líquido, mas com este procedimento o órgão ficaria colado às paredes do tórax e nada mais poderia ser feito. Era tudo ou nada!

A cirurgia chegou a ser agendada e o dinheiro arrecadado com a campanha não chegava perto da despesa do avião, foi então que surgiu uma pessoa que pode, sem exageros, ser definida como um “anjo da guarda”. Um médico picoense, conhecido da família, perguntou quanto faltava para completar o preço da passagem. Ao ouvir o valor de R$ 80 mil, ele não hesitou, fez a doação imediatamente. A única condição imposta foi não ter o nome revelado.

O Milagre

Faltando apenas dois dias para a realização da cirurgia em Teresina, no início de novembro de 2016, surgiu uma vaga no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mais especificamente no Instituto da Criança, uma de suas inúmeras alas. E nesse meio tempo, Xavier conseguiu o avião através do SUS, dessa forma o tratamento continuaria sendo público. Outra grande vitória. “Foi o nosso primeiro milagre”, comentou Cristiane.

Iasmim, após dois meses em Teresina, pôde ser transportada para outro hospital de ponta. Uma nova etapa da luta pela vida teria início.

O fim?

Em São Paulo, Cristiane, Xavier e Iasmim passaram quase 5 meses, dos quais em quatro deles, a jovem esteve internada, com sondas e drenos no corpo, em um estágio extremamente doloroso. Ao longo de todo esse processo os pais jamais saiam do lado da filha, no entanto, em São Paulo, havia outro problema, o hospital ficava na capital, enquanto o parente mais próximo morava em Santo André, a duas horas e meia de carro.

Cristiane relata que eles se reversavam, enquanto um passava a noite com Iasmim, o outro ia dormir na casa dos parentes. Quando isso acontecia, deitavam-se às 2h00, levantando-se às 5h00, pois todos na casa tinham de ir trabalhar. Eles decidiram quer precisavam morar perto do hospital, localizado no bairro Pinheiros, onde a diária nos apartamentos fica orçada em R$ 250. Após muito andar, inclusive no dia 31 de dezembro de 2016, Cristiane relata que achou a acomodação onde permaneceriam enquanto a filha estivesse internada.

Ao todo, Iasmim foi submetida a 18 cirurgias, a maioria delas para retirada e incisão de novos tubos para a drenagem do líquido dos pulmões. Estes chegaram a extrair quatro litros por dia. De todos esses procedimentos, três foram bem delicados. Em uma dessas cirurgias, talvez a mais séria, aconteceu no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (INCOR). Esta, especificamente, começou às 17h00 e foi até as 23h00. Os pais ficaram sobre aviso, preparados para o pior. À 1h00 foram chamados para ouvir que a cirurgia tinha corrido bem, mas a imagem da Iasmim deixou uma forte impressão em Cristiane. “Foi a pior sensação da minha vida”, relatou. A filha estava na UTI, entubada e respirando com a ajuda de aparelhos.

Ao longo de todo o processo vários órgãos de Iasmim chegaram a parar, com exceção do coração, que sofreu danos, e do cérebro. Este jamais foi atingido. Iasmim ainda perdeu a capacidade de respirar e por 23 dias esteve sob ventilação mecânica. Ela passou por uma traqueostomia, quando os médicos fazem uma incisão no pescoço para facilitar a respiração.

 A recuperação

A recuperação de Iasmim foi lenta e comemorada a cada pequeno passo. Mesmo com todas as cirurgias e exames os médicos não chegavam a um consenso sobre o tratamento mais adequado. A suposição de câncer foi abandonada, mas houve momentos em que a junta não queria assumir a responsabilidade por um risco que resultasse no falecimento da jovem, até que um deles decidiu tomar a frente e propôs um tratamento alternativo para doenças autoimunes. “Eu me responsabilizo”, teria dito aos pais.

Com esse tratamento a recuperação veio aos poucos, notada pela redução do líquido pleural que se acumulava nos pulmões. Mililitros a menos recolhidos ao dia eram comemorados como uma verdadeira graça divina. Como já estava a seis meses deitada, Iasmim teve de recuperar os movimentos do corpo. Médicos chegaram a afirmar que ela não voltaria mais a caminhar. Felizmente o apoio dos pais, a vontade de voltar para a sua vida normal e o bom trabalho da equipe de fisioterapeutas, contrariaram o prognóstico.

Ela recebeu alta médica no dia 02 de março deste ano, sem que tenham descoberto o que estava causando o acúmulo do líquido pleural nos pulmões. Mesmo após a liberação o casal e a filha ainda permaneceram um mês em São Paulo, pois, como é natural em um caso tão delicado, a saúde de Iasmim ainda requeria cuidados.

Volta pra casa

Ao retornar para casa Iasmim foi recebida com uma festa oferecida pela família e amigos. Durante todos os meses do tratamento Cristiane e Xavier estiveram longe dos outros dois filhos pequenos. Já recuperada, o estado de Iasmim ainda requer muitos cuidados. Equipamentos de ponta foram comprados para auxiliar na recuperação da adolescente, todos muito caros, e ela terá que ir a São Paulo pelo menos a cada dois meses. Além do acúmulo do líquido nos pulmões, Iasmim sofreu com uma infinidade de tromboses que se multiplicaram pelo corpo, mas jamais deixou de duvidar que voltaria com vida e curada para casa. “Ela nunca se deu conta da gravidade, e quando chorávamos para ela e dizíamos, minha filha, você foi um milagre, está viva porque Deus permitiu, ela responde: ‘mãe, a senhora achava mesmo que eu ia morrer? Eu não sabia que era grave assim’”, relatou Cristiane

Além do médico que a ajudou, e das inúmeras pessoas que fizeram doações, rezaram e torceram pela Iasmim, Cristiane agradece a Faculdade R.SÁ, na pessoa da vice-diretora Roberta Mara de Deus Urtiga, que sempre mantive os pagamentos dos dois, professores da instituição, durante esses meses de provação.

Cristiane e o marido se sustentaram durante grande parte dessa jornada com os próprios salários e frisa que as doações ajudaram muito, uma vez que estadia, deslocamento, alimentação e os medicamentos comprados após a alta, custavam muito. Eles prometem repassar o excedente para instituições filantrópicas, desejando que outras pessoas que também lutam pela vida possam ser beneficiadas com esse gesto de caridade demonstrado por tantos amigos anônimos.

Iasmim está bem, caminha só, se alimenta, é medicada diariamente, e tem buscado a presença dos irmãos menores. Agora ela voltará a estudar. Estava no sétimo ano do Ensino Fundamental quando adoeceu, e a sede por retomar o dia a dia após tanta provação só caracteriza a vida de uma criança que foi abençoada com um “milagre”, nas palavras da sua mãe, Cristiane Santana.

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