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Caio continua um anjo. Uma prova de que as redes sociais podem fazer o bem para muita gente
Por: Orlando Berti*
Quem frequenta as redes sociais virtuais e as correntes do bem deve ter ouvido falar nos últimos anos da emblemática, massiva, positiva, energizada e amorosa campanha Ajude o Caio, que utilizou no Facebook, Twitter, Instagram e outros meios de comunicação virtual a hastag #AjudeoCaio.
Foi do tipo de mobilização social e fraternal a mostrar que existem sim, vários lados bonitos nas redes sociais, mesmo em tempos pós-golpe do Zacarias (essa história ninguém quer mais lembrar – daquele rapaz que fingiu estar doente para captar recursos financeiros) há muito amor.
E foi o amor de uma família, de centenas de amigos, de milhares de novos amigos e de milhões de admiradores que mantiveram vivas as chamas pela luta da vida do pequeno, sorridente, guerreiro Caio Augusto Rodrigues, de oito anos. Ele nos deixou na manhã de domingo (14 de fevereiro de 2016). Um domingo como qualquer outro, mas uma data para ser lembra como Dia do Caio
Caio e sua família nos deram lições de vida durante seis anos. Foi uma campanha de energias positivas intensas para combater uma leucemia (câncer no sangue).
O pequenino foi levado para fora do Piauí e até para fora do Brasil. E muita gente do bem acompanhava, lutava, estava em orações, contribuindo, aumentando uma corrente do bem.
Mostrando que ainda há muita solidariedade no Mundo em que amar o próximo ainda é uma máxima.
Caio não está mais fisicamente entre a gente, mas sua história será lembrada para sempre pela luta de um garoto cheio de amor para dar, filho de uma família de guerreiros. Caio nos deixa o legado de que em um mundo de corrupção, Lei de Gerson, que quase ninguém fala mais com ninguém, de desconfianças, de desamor, de desgraças, o bem ainda é forte, a cidadania também.
Caio vive! Vá com Deus, guerreiro! E que seu caso continue a ser lembrado como ato de AMOR!
* Jornalista e professor universitário. Atualmente desenvolve Projeto de Pesquisa de Etnografia das Redações tentando entender o modo de fazer jornalismo no Piauí e uma série de experimentos sociais.
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A MOTIVAÇÃO E SEUS MISTÉRIOS
Por Graça Moura
Se muito já sabemos, muito mais precisamos aprender sobre MOTIVAÇÃO.
Ouço demais a palavra motivação, aqui, ali e acolá. De tantas formas e de tanto jeito que já perdi a conta: O que falta a esses alunos é motivação; os professores andam desmotivados; preciso de motivação; o chefe está desmotivado; aquele não tem motivação para nada; o que falta naquela equipe é motivação; meus funcionários estão desmotivados; o grupo não caminha porque é composto de pessoas sem motivação...
Guardo também a viva lembrança do primeiro aprendizado sobre o assunto, que chegou ilustrado com a imagem do chicote e da cenoura. Alguém se lembra? Aquela onde aparece uma pessoa (espécie de patrão montado num jumento) com um chicote na mão e acenando a uma pequena distância, uma bela e apetitosa cenoura. Essa imagem ilustrava o sistema de recompensa e castigo (que não deixa de ser uma forma de motivar).
A cenoura na frente do nariz do jumento e o chicote pronto para lhe espancar o lombo, deixa o animal de forma alternada, seduzido e impelido (motivado?) em direção aos objetivos do seu proprietário e não aos seus próprios objetivos. Talvez more por aí o perigo...
Se o jumento chega a comer a cenoura a gente nunca sabe; agora o chicote, ah, isso ele sente, “inclusive pelo medo de ser privado de sua subsistência”.
Não quero ser ingênua e afirmar a TOTAL ineficácia desse “método motivacional” visto que a cenoura representa o dinheiro e o eventual conforto que o mesmo pode comprar. Sei também que para muitos, ainda é o chicote que os obriga a cedo acordarem, levantarem e encaminharem-se para um trabalho com o qual não se identificam e muito menos sentem-se motivados para fazê-lo. Mas não tenho dúvida: a palavra-chave para quem quer ser sempre motivado, inclusive para a vida, é automotivação.
Ninguém motiva ninguém. Motivação é um processo complexo e interno. Assim como a mudança, exige escolha pessoal e acontece de dentro para fora e não de fora para dentro como imaginam e pensam alguns.
Importante não confundir SATISFAÇÃO DE NECESSIDADES COM MOTIVAÇÃO. Essa não pode ser imposta.
Modernamente podemos afirmar que se as Instituições querem pessoas motivadas, devem começar a criar, desenvolver e manter climas psicológicos saudáveis que permitam às pessoas o livre desenvolvimento de seus desejos, talentos e potencialidades.
Vamos lá? Juntos?
*Graça Moura
Psicóloga, formada pela Universidade Federal de Pernambuco.
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Há lobos que se acham normais
“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!” “O que foi Seu Chico?”, perguntei encabulado. “Está vendo aquele velho ali de óculos escuros? Ele matou o próprio filho e tocou fogo. Acharam só as cinzas, no quintal. E ainda é suspeito de ter assassinado a esposa. Segundo informações dos vizinhos, já se preparava para fazer, com ela, a mesma coisa que fez com o filho. Pois, antes do acontecimento tornar-se público, deram notícia dele comprando gasolina em um posto da cidade.” E concluiu: “Onde essa criatura estiver, eu não passo nem perto. Deus me livre. Isso não é gente”, afirmou com repugnância e fez o caminho pelo lado oposto. Essa cena foi presenciada logo cedinho, no mercado das frutas.
Atrocidades como a relatada pelo personagem, infelizmente, são veiculadas todos os dias na imprensa nacional e internacional. Parte da sociedade, pelo longo convívio com esses atos, já nem se assustam. Apenas lamentam e se mostram impotentes diante da maldade crua e fria destilada por alguns seres – ditos - humanos. Mas, no entanto, outra situação chamou-me a atenção: a capacidade de se indignar, de repudiar esse tipo de pessoa. Sentimento que muita gente já não se mostra capaz.
Houve um tempo em que os assassinos, ao cometerem um crime, independente de serem ou não punidos pela justiça, eram banidos do local onde moravam em respeito aos familiares das vítimas. Acordos eram selados e devidamente cumpridos. São muitos os exemplos, principalmente, nas pequenas cidades do interior. “Raimundo matou Joaquim e anoiteceu e não amanheceu. Toda a família foi embora. Inclusive seus pais. Soube que moram em uma fazenda, no estado de Goiás. Aqui não podem andar”, são muitos os relatos dessa natureza.
Infelizmente, hoje, atos cruéis de violência, inclusive, crimes de pistolagem, ainda são comuns nos sertões de dentro. No entanto, mesmo com os autores e mandantes identificados, nota-se uma inversão de valores. Não é nada difícil assistir cenas com esses ameaçadores da paz sendo paparicados, bajulados, batizados como se fossem heróis. É comum vê-los passeando pelas ruas, sentados em mesa de bar, figurando em pontos movimentados da cidade, como se nada tivesse acontecido. Aos familiares das vítimas, só a dor, a revolta e o constrangimento de dividir o mesmo espaço com os esfaceladores de vidas e de esperança.
Banalizar o crime ou o criminoso é enterrar a vida. E “a vida é curta para ser pequena. A alma é longa, bela e serena”. Que o exemplo praticado por Seu Chico seja plantado no coração das pessoas e faça alavancar, não uma atitude de vingança, mas a capacidade de compadecer, sentir e valorizar o que temos de mais sagrado em toda sua plenitude, sobretudo, sob os auspícios da justiça.
Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Lisboa – Portugal. E-mail: frassis88@hotmail.com