Ao longo do riacho que banhava as terras do meu avô, havia muitas cacimbas no seu leito, sendo que algumas delas, pela importância e tradição, ficaram gravadas na nossa memória. A Cacimba do Riacho, mais próxima das nossas casas, e A cacimba do Muquém, lá mais para dentro da nossa propriedade, foram as que mais se destacaram. Embora a Cacimba do Riacho fosse menos arborizada que a Cacimba do Muquém, ambas eram bastante piscosas naquela época.
O leito do riacho, em determinadas épocas do ano, continha água em praticamente toda a sua extensão; porém, nos períodos de estiagens mais prolongadas, apenas as cacimbas permaneciam cheias. Era ali onde os nossos rebanhos de gado bovino (vacas, bois, bezerros...) e alguns animais (cavalo, burra, jegue...), para matar a sua sede, consumiam aquele líquido precioso, a água.
A Cacimba do Muquém, situada numa das inúmeras e bonitas curvas do nosso riacho, era rodeada de árvores, como um gigantesco e alto pé de muquém na ribanceira; e uma enorme cajazeira também ali à margem direita, onde existiam também alguns arvoredos e um intrincado de outras pequenas vegetações circundantes; e do lado oposto, isto é, na margem esquerda da cacimba, havia um frondoso e colossal pé de oiticica. Tudo isso contribuía para que aquela cacimba se transformasse num local sombreado e propício para a permanência ali de diversos cardumes. E, por isso mesmo, os peixes ficavam bastante gordos e atingiam um tamanho impressionante, considerando-se a realidade local ou regional.
Nos períodos de estiagem, ou seca, como se costumava chamar aquela estação não chuvosa, fazia-se temporariamente o esgotamento daquela cacimba, assim como da outra, de onde era retirada toda a água suja e envelhecida e removida a lama apodrecida, para também desobstruir as “minas” ou “veias” d’água que afloravam, com o objetivo de se proporcionar uma renovação apropriada ao consumo do gado. E, assim, dentro de algumas horas a cacimba se encontrava novamente cheia de água limpa, favorecendo enormemente à pecuária, pois para esta a água tem importância vital. Existiam várias cacimbas ao longo do riacho do meu avô, entras as quais, como já citei acima, merece destaque especial a saudosa e sombreada cacimba do Muquém, rodeada parcialmente por alguns arbustos, e uma grande oiticica na outra margem, margem esquerda; e na margem direita, uma cajazeira enorme e um gigantesco e majestoso pé de muquém na ribanceira, daí o seu nome: Cacimba do Muquém. Os altos e enormes galhos daquela árvore se estendiam e pendiam majestosamente bem alto por sobre a cacimba, proporcionando ao ambiente uma sombra agradável e propícia aos cardumes que ali viviam, além de criar ali um natural e belo efeito paisagístico que ornamentava o local em meio aquela bonita natureza. Era um ambiente cheio de luz e vida. Aquela era uma das cacimbas mais piscosas do nosso riacho. Era impressionante a grande quantidade de peixes que havia naquela cacimba.
Havia ali cardumes de traíras, curimatás, corrós, branquinhas, piaus, mandis, caris, piabas, dentre outros; além de muçuns, cágados... Que, aproveitando a umidade e a água fria, ali também se reproduziam e atraíam os pescadores, pois os cardumes eram relativamente abundantes, favorecendo as nossas pescarias. Velho riacho... Quanta saudade! Indescritível e inegável nostalgia...
Construíam-se também em suas margens alguns canteiros superpostos ou suspensos sobre estacas de madeira, onde eram cultivados alguns tipos de verduras, tais como cebola, coentro, alface e outros. Eram os chamados “barcãos”. Foi há muito tempo...
Podia-se observar ali também, um grande número de pássaros das mais variadas espécies e tamanhos, que habitavam as árvores, matas, capinzais e plantações... Belos e saudosos campos de outrora! Velhos tempos que não voltam mais!
(*) Edimar Luz, é escritor/cronista, poeta, articulista, compositor, professor e sociólogo.