Infelizmente, mais uma vez, o Piauí foi destacado nacionalmente a custa da brutalidade, de atrocidades cometidas contra a vida do ser humano. O caso do estupro coletivo, homicídio e tentativa de homicídio sofrido por quatro jovens no inicio da noite do dia 27 de maio de 2015, nos arredores da cidade de Castelo do Piauí, localizada a 184 km de Teresina, chamou a atenção da mídia nacional.
A página do jornal Folha de São Paulo na internet, uma das mais conceituadas do Brasil, enviou, especialmente ao Piauí, a repórter Cláudia Collucci para cobrir o triste acontecimento. Durante dias, a correspondente redigiu matérias sobre o caso. A revista Veja, outro importante veículo de comunicação do país, editada semanalmente, também deu destaque. A capa da edição que circulou no dia 17 de junho trouxe a foto dos acusados com a pergunta: “eles estupraram, torturaram, desfiguraram e mataram, vão ficar impunes?", e levantou questionamentos sobre a maioridade penal, proposta ora discutida no Congresso Nacional.
No dia 07 de junho, após dez dias de internação, uma das vítimas da barbárie, Danielle Feitosa, 17 anos, não resistiu e faleceu; as outras três foram salvas. Quatro menores de 15 a 17 anos e um homem, de 40, foram presos acusados de envolvimento nos crimes.
A pergunta que fazemos é: o que leva o ser humano a agir com tamanha brutalidade? Para o pensador bielorrusso, Vygotsky, o homem é um ser social encarnado em um indivíduo. Se não tivéssemos alguém para cuidar de nós, não sobreviveríamos e, consequentemente, não seriamos humanos. O nosso cérebro não se desenvolveria. Pois somos frutos da aprendizagem e das relações sociais que tivemos. Se assim não fosse, nos comportaríamos como um animal qualquer.
Entre os seres vivos, o humano é o mais frágil. Precisa dos cuidados do outro por mais tempo. A tartaruga, por exemplo, ao desovar, enterra suas matrizes e retorna ao habitat natural. Quando os filhotes nascem, já carregam consigo o instinto de se defenderem sozinhos. Aqueles que conseguirem se livrar dos predadores e alcançarem o mar estarão salvos. Caso contrário, serão devorados. É o estado natural das coisas. Com o ser humano é diferente. Nós não temos destino determinado, nem natureza definida. Temos uma margem de potencialidade que pode se desenvolver para um lado ou para outro; para o bem ou para o mal.
Somos seres biológicos por nascimento. O que nos torna humano é a relação que temos com a comunidade. O que chamamos de estado de cultura que, por sua vez, fornece o modo de como devemos sentar-se, vestir-se, se alimentar, falar. Assim, é oportuno perguntar: e a violência, tão disseminada entre os humanos, ela é, também, aprendida?
Verdade, justiça, bondade e estética são os quatro pilares básicos que emanam os valores. Assim, uma atitude violenta não atende a esses princípios. Usar a violência é, sobretudo, violar o direito de vivermos em uma sociedade constituída por leis. Para Hobbes, o ser humano não é bom, nem mal. E diz mais: quanto o bem como o mal são instrumentalizados, impulsionados. Os adultos são os responsáveis pelo comportamento das crianças. Elas passam a ver o mundo com os olhos que os adultos as dão. Somos, ao mesmo tempo, corpo, emoção, razão e temos que apreciar os passos que os outros deixaram a fim de refletirmos sobre o que é bom ou ruim para nossas vidas. Se não reconhecermos isso, perderemos o sentido de existir. É uma questão de escolha!
Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa – Portugal. Email: frassis88@hotmail.com