Talvez inspirados e embalados pela ação das autoridades dos Estados Unidos, a Polícia Federal (PF) resolveu instaurar inquérito ontem para investigar eventuais casos de corrupção de dirigentes em competições organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Fifa no Brasil.
A PF já tem indícios de que houve remessa ilegal de dinheiro para o exterior, e os suspeitos serão investigados pelo crime de evasão de divisas. A operação será liderada pela Polícia Federal, com a participação direta do Ministério Público Federal (MPF). O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai se reunir com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para definir a linha de ação conjunta a ser seguida.
— Só podemos investigar delitos tipificados pela legislação brasileira. Se houver, a Polícia Federal abrirá os inquéritos e fará investigação rigorosa — disse Cardozo.
Na noite da última quarta-feira, agentes foram até os escritórios da agência de marketing esportivo Klefer, de propriedade de Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo, e apreenderam o celular do empresário, além de computadores e documentos. No relatório divulgado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Leite surge como provável personagem no caso que envolveu o pagamento de propina que resultou na compra dos direitos de transmissão da Copa do Brasil, hoje fatiada entre a Klefer e a Traffic, do empresário J. Hawilla, citado nominalmente no relatório como um dos participantes do esquema que resultou em casos de corrupção na Conmebol, na Concacaf e na Confederação Brasileira de Futebol.
Cada vez mais pressionada, a CBF já se colocou publicamente à disposição do MPF. Em nota oficial, a entidade informou que já apresentou os contratos que foram alvo da investigação dos norte-americanos. Embora a entidade tente demonstrar que nada tem a temer, Marco Polo del Nero, mandatário da CBF, tem paradeiro desconhecido. Em Zurique para o Congresso que elegerá o futuro presidente da Fifa, Nero deixou o hotel no qual estava hospedado na cidade suíça. Ainda que circule a versão de que ele está a caminho do Brasil, a informação não é confirmada nem por Walter Feldman, secretário-geral da CBF e seu braço direito
— Não sei de nada, ouvi falar por vocês (jornalistas).
A Fifa, contudo, afirma que ele está retornando e deverá desembarcar às 5h desta sexta em São Paulo. Se o atual presidente volta, o antigo fica. Preso por ter se beneficiado de propinas pagas para aprovar contratos de direitos , o cartola ainda não sabe se será extraditado ou não.
A presença de Marin não é mais bem vista nem em seu antigo palácio. Inaugurada a um custo de R$ 100 milhões, a sede da CBF levava o seu nome. Ontem, funcionários apagaram a homenagem.
As investigações em curso, no entanto, não serão tão facilmente esquecidas.
Fonte: EXTRA