Lendo os escritos da Doutora Graça Moura sobre a MORTE, comecei a divagar sobre tema que me é tão próximo por dever estatutário, sobretudo quando ela advém por meio do primeiro crime da humanidade, em que uma vida foi ceifada por mãos fratricidas, corolário da inveja de CAIM para com o cândido ABEL.
É cediço que a morte, hoje, não mais o sexo, é um tabu para a sociedade, pois o mundo hodierno, que valoriza excessivamente um estilo de vida pleno e hedonista, tem verdadeiro comichão só de ouvir falar nessa que é o fim último de cada ser vivente, o ocaso da existência, que, a toda evidência, faz cessar o sopro das narinas. Deveras, fala-se e vê-se sexo em todo e qualquer lugar, mas morte não, por ser deprimente, logo deve ser proscrita das discussões familiares e em horas de ócio e lazer.
O estóico e sábio Michel de Montaigne, nos seus Ensaios, instrui que “Quem ensinasse os homens a morrer os ensinaria a viver”, posto que a “indesejada das gentes” provoca reflexão sobre os passos trilhados na fase de plena floração da vida humana, sendo causa de mudança de atitudes e de aspirações. Mas não, o homem se recusa a pensar nas cinzas, como se não o aguardasse, avidamente, vermes insensíveis e que, inexoravelmente, irão roer suas álgidas e inertes fibras de cadáver.
Para aprofundar a discussão, calha rememorar hábito não usual para esta época, quando, em festividades e convescotes, no Egito antigo, se passava por entre os que ali estavam um esqueleto, a fim de relembrar aos presentes que a morte irá vencer sempre, fazendo o homem-deus refletir sobre o legado da desobediência adâmica, que, por mais que se pense imortal, um dia irá ser pasto para comensais menores e de corpo mole e asqueroso.
Quantos homens, por sua abastança, não espezinham seus semelhantes subalternos, simplesmente por estarem estes em escala social abaixo deles, olvidando o fato de que um dia serão deitados no mesmo chão que não faz acepção entre ricos e pobres, onde terão a mesma sorte de cada vida que se apaga. De fato, se refletissem sobre a miséria que os aguarda, trancados num esquife, tendo suas entranhas devoradas por seres rasteiros e implacáveis, iriam, sem dúvida, rever seus atos.
Há mortes, também, que provêm da ânsia de poder, quando homens, almejando status, são impulsionados a agir com mãos criminosas, fazendo cessar a vida de seus opositores, retirando estorvos que lhes frustram a obtenção do respeito a que os homens tanto almejam. Um dos mais emblemáticos exemplos visto na literatura universal é o da morte do pai de Hamlet, que fora perpetrada pelo seu próprio irmão, Cláudio, que, a um só tempo, lhe roubou, através do torpe fratricídio, a coroa, a rainha e a vida.
É forçoso, portanto, refletir e pensar sobre a morte, como forma de aperfeiçoamento do ser humano, lembrando-o de que um dia, assim como veio a este mundo, irá sair dele, sem poder levar sequer um mísero óbolo, pois tal riqueza não é utilizada nos céus, apenas moedas adquiridas com boas ações, as quais se encontram depositadas no cofre celestial e que serão empregadas para adquirir a eterna vida, no destino aguardado, piedosamente, pelos místicos.
E há, por derradeiro, a possibilidade, também, de advir o nada, após a cessação da força vital existente em cada ser, no qual o que antes fora viril e viçoso torna-se pó somente, restando para a posteridade apenas fragmentos de histórias particulares, boas ou ruins, escritas na memória dos que ficam, cujo enredo cada um tratou de escrever, enquanto vivo, com ações e gestos.
Antonio Madson Vieira de Oliveira
Servidor Público Estadual – Lotado em Picos-PI