Quinta-Feira, 13 de Novembro de 2025

Vaso vazio de concreto

Publicado em 28/10/2014
Por Marta Soares
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Comecei a degustar Brasília pela janela da aeronave. À medida que a aterrissagem se aproximava, as imagens, antes vistas apenas via fotografia e televisão, iam crescendo, crescendo até o toque final no solo da pista de pouso. Chegara a hora de conhecer a espinha dorsal do poder político nacional. Não apresentava ansiedade, e sim, curiosidade. Afinal, iria me encontrar, de novo, com a ousadia futurista do gênio da arquitetura moderna, Oscar Niemeyer. Porém, foi Lúcio Costa quem apresentou o cartão de visita.

Segui de ônibus pelo famoso Eixo Monumental. A cada aparição que dispensava atenção, o motorista ia alertando: “Banco Central, quem vai ficar?!” Logo depois, “à direita está à sede do Banco do Brasil, Biblioteca Nacional e Museu Nacional!” De pescoço esticado e olhar atento, o formato do museu já se mostrava evidente a presença do projetista do Copan. “Aqui é a Catedral Metropolitana!” Aí meus olhos sorriram. A memória voltou ao tempo de criança quando vi, pela primeira vez, o retrato daquela que chamavam de igreja. Muito estranho! Quem já se viu igreja daquele jeito?! Mas reafirmavam em alto e bom tom: “é a igreja de Brasília”.

Gostaria de ficar no ponto mais próximo ao Congresso Nacional. Um amigo havia indicado a rodoviária do Plano Piloto. Mas o condutor aconselhou: “é melhor você descer na Praça dos Três Poderes!” E assim foi feito. Na Praça dos Três Poderes, como o próprio nome já diz, “matei vários coelhos com uma única cacetada”. Lá se localizam os prédios que sediam a tríade materializada por Montesquieu; no centro, situa-se as imponentes torres, símbolo maior do poder político brasileiro, o Congresso Nacional, o côncavo e o convexo. De um lado, o Supremo Tribunal Federal e, do outro, o Palácio do Planalto, judiciário e executivo convivem frente a frente, e o monumento dedicado aos construtores da cidade, fincado no meio da praça, comtempla os três, sob o olhar vigilante da bandeira nacional.

As curvas imponentes da criação niermaniana parecem levitar suspensas no ar. O Palácio do Itamaraty é logo ali. No sentido oposto, o da Justiça. Nossos olhos alcançam o futuro, mesmo situados no presente e com a “moleira” adormecida pelo calor de 36 graus. No centro do poder, só é permitido à venda de água, sorvetes e balinhas. “Comida, jamais”, afirma a ambulante cearense que aponta para a esquerda e diz: “é ali onde o Romário e o Tiririca ‘trabalham’!” e se despede com uma gargalhada.

Brasília é um vaso vazio de concreto instalado no Planalto Central. Uma monumental estrutura urbanística e arquitetônica traçada pelas habilidosas mãos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Idealizada para diminuir a distância entre o poder central e o povo brasileiro, a Capital Federal é o resultado de um sonho sonhado e realizado pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, ou, simplesmente, JK. Inaugurada aos 21 dias do mês de abril de 1960, passou a ser o centro das decisões politica e administrativa do Brasil. Conhecida como cidade-monumento, passou a ser Patrimônio Cultural da Humanidade em 7 de Dezembro de 1987.

Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa – Portugal. Email: frassis88@hotmail.com

 

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