Quinta-Feira, 10 de Outubro de 2024

Picoenses lamentam demonstrações de ódio contra nordestinos pelas mídias sociais

Publicado em 11/08/2014
Por Jailson Dias
f4769bbbc72af19180a789b7bc62.jpg
f4769bbbc72af19180a789b7bc62.jpg
Sulistas continuam voltando o seu ódio contra o Nordeste/Divulgação

Após a divulgação do resultado oficial da eleição que reconduzia Dilma Rousseff (PT) para o Palácio do Planalto teve início uma onda de manifestações preconceituosas contra os nordestinos, como se apenas estes fossem responsáveis pela vitória da Presidenta. Nossa equipe conversou com alguns picoenses para saber o que acham do assunto. Mesmo sendo uma prática recorrente em todas as eleições para presidente, especialmente nas últimas, muitas pessoas ainda demonstram tristeza e indignação ante as demonstrações pequenas da natureza humana.

Confira alguns depoimentos:

 

Eric Leal - Estudante

Olha Jailson, eu acho muito sem nexo...sabe, eu não tenho as palavras corretas para explicar como eu fico triste em pensar como ainda existe esse tipo de pensamento retrogrado. Vemos pelas próprias redes sociais e pelos meios jornalísticos que esse comportamento vem mais da região sul e sudeste. A região sul composta por uma maioria de descendentes de europeus que vieram fugidos da segunda guerra mundial com medo dos horrores da guerra e do partido nazista. A questão é, por mais que levemos patadas e formos odiados por duas regiões de nosso país nunca precisei disseminar o ódio contra ela e nem se quer vi um nordestino fazendo algo semelhante a isso.

 

Danyella Iguaracy – Acadêmica de história

Isso só deixa mais claro que o Nordeste representa para maioria das pessoas de outras regiões. Relação de ódio com esse povo sofrido, que está se levantando.  Nos chamam de burros por termos decidido a eleição presidencial favoravelmente para candidata do PT, decidimos o que está sendo melhor para nós e para eles também, pensamos no povo.

 

Lenice Sales - Professora

Uma falta de respeito com o próximo, acima de tudo falta de amor com o ser humano. Somos todos da mesma nação. E essas manifestações de ódio só mostram que nunca evoluímos na questão do preconceito de forma geral.  Sempre que é conveniente tem um grupinho colocando sua fúria para fora, seja com nordestinos, gays negros ou índios. Por isso digo que vivemos num país de faz de conta, de hipocrisia.

 

Ana Karina Sampaio – Professora

Isso mostra que o país precisa muito avançar na democracia! Mostra que o espírito provinciano das capitanias hereditárias ainda está forte em nossa cultura! Não só o ódio contra nordestinos, mas todo o sentimento separatista!! O que se tem hoje é a produção de um discurso perigoso quanto a pluralidade das ideias!

 

Raimundo Lima – Professor da UFPI de Picos

Constitui um grande desafio para um Presidente da República, governar esse imenso e heterogêneo país, chamado Brasil. Não foi a toa que depois da “independência” em 1822, a América Portuguesa, passou a ser um Império. Isto é, esse território imenso, disperso, com variados povos, vivendo de formas variadas não se homogeneizou pela causa da independência como é pregado por alguns livros didáticos de História. Assim, o Império Brasileiro, localizado no Rio de Janeiro, tentou de diversas formas amenizar as diferenças geográficas, políticas, econômicas, sociais e culturais desses “povos” que habitavam o Brasil, porém, não logrou êxito. Na República, as diferenças e divergências geográficas, políticas e ideológicas continuaram. Isso ficou mais marcante e evidente quando Minas Gerais e São Paulo se uniram na chamada “Política do Café com leite” para governar o Brasil, se alternando na Presidência. Ou seja, esses estados (diga-se as oligarquias políticas que os dominavam) inventaram a divisão: Norte subdesenvolvido, fraco e Sul desenvolvido, forte. Portanto, o que se vê agora com estas manifestações de preconceito, das regiões Sul e Sudeste (diga-se algumas pessoas, pois já houve muitas migrações do Norte para o Sul e vice-versa), contra os nordestinos é um reflexo desse passado recente. Acredito que um Presidente da República não deve governar querendo homogeneizar o Brasil, mas sim desenvolvendo políticas públicas que conscientizem o brasileiro, de todas as regiões, de que devemos respeitar nossos compatriotas e também contribuir para o desenvolvimento humano e social de todos.

 

 

Comentários