Sábado, 05 de Outubro de 2024

Superação: Casal portador de deficiência visual supera dificuldades

Publicado em 16/12/2012
Por Marta Soares
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O casamento veio no dia 09 de junho de 2007. /Arquivo Pessoal.

Engana-se quem pensa que a deficiência visual pode limitar completamente a vida de alguém. O casal Durval e Lúcia são a prova de que com organização, empenho e amor é possível ter uma vida normal.

Durval Mendes Barradas, 41 anos, nascido em Barro Duro-PI, conta que perdeu completamente a visão aos 18 anos, após sofrer de catarata, que evoluiu para um glaucoma. Antes de perder inteiramente a sua capacidade visual, Durval passou a dedicar-se a trabalhos sociais e à música. Toca violão, teclado e canta para a família e em eventos solidários. 

Universitário, Durval concluiu no 2º semestre de 2012 o 1º período de Serviço Social na Faculdade R. Sá. “Arrastei meu Ensino Médio, concluí, mas foi bem difícil e hoje eu tenho o desafio de estar cursando Serviço Social e consegui concluir com êxito o primeiro período e estou entre os melhores alunos da turma”, orgulha-se.

As pequenas dificuldades que surgem são rapidamente superadas: “Eu estudo numa instituição onde o apoio é afetivo e pessoal, não há material que facilite o meu aprendizado, a minha condição de estudante é igual a de todos os outros”, revela Durval.

Para estudar, ele diz que digitaliza todo o seu material e em seguida usa um programa de acessibilidade Dosvox (sistema para computadores que se comunica com o usuário através de síntese de voz, viabilizando, deste modo, o uso de computadores por deficientes visuais, que adquirem assim, um alto grau de independência no estudo e no trabalho) e NVBA, que converte o texto em áudio MP3.

Além de estudar, Durval trabalha na APAE (Associação Pais e Amigos Excepcionais) de Picos e no CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), ambos na área de musicoterapia.

Lúcia de Fátima Fortaleza da Silva, 34 anos, é picoense e nasceu com visão sub normal no olho direito, enxergando 10% e não possui o globo ocular esquerdo, mas usa uma prótese para manter a estética. Lúcia trabalha o braile na APAE de Picos, além de auxiliar outras pessoas com deficiência na prática das atividades da instituição.

Lúcia é a filha mais nova e a segunda a ter a visão comprometida. Dos três irmãos, o mais velho é completamente saudável, a irmã do meio possui deficiência total da visão e Lúcia tem visão subtotal. Segundo Lúcia, a deficiência é congênita. 

Em 2005 Durval e Lúcia se encontraram e esse encontro é narrado por ele: “2005 em um dos eventos da APAE em Passagem Franca eu a conheci, nos encontramos em Pedro II-PI e eu acabei vindo para Picos, fui convidado para trabalhar na APAE local e deste trabalho não tivemos outra saída que não fosse o casamento”, conta.

O casamento veio no dia 09 de junho de 2007. Lúcia e Durval moram sozinhos em um apartamento no bairro Passagem das Pedras e nem a deficiência visual os impede de levar uma vida normal. Organização é fundamental, segundo Durval, pois precisam saber onde estão os móveis e demais objetos pela casa. Quando a equipe do “Folha Atual” chegou à residência dos dois, Lúcia estava arrumando a casa, fato que Durval elege para nos mostrar que ambos conseguem viver normalmente, apesar das limitações da visão.

Como uma boa dona de casa, Lúcia mantem todos os cômodos da casa muito limpos e organizados e conta que limpa a casa, organiza tudo, lava e passa roupas, faz comida e todas as outras tarefas de uma dona de casa.

Para se locomoverem fora de casa, Durval está sempre acompanhado da esposa Lúcia, mas segundo ele, quem os vê ao longe não imagina que ambos são portadores de deficiência visual: “a nossa dificuldade surge quando precisamos ir ao centro da cidade. O nosso trânsito é bagunçado, as pessoas em sua maioria não respeitam, mas a gente consegue ainda sim”.

Acessibilidade arquitetônica, segundo o casal, ainda precisa melhorar, “mas o que a pessoa com deficiência busca não é somente uma acessibilidade física, isso é bom e necessário, mas não é tudo. Nós moramos num prédio, temos escadas e isso não nos impede de entrar e sair. Mais do que uma acessibilidade física, a gente busca afetividade”.

É comum ouvirmos: “quando perde-se um dos sentidos, ganha-se outro”. Na vida de Durval isso está presente na música e nas habilidades manuais. A música é sua válvula de escape. “Antes de vir pra cá, quando morava lá em Barro Duro, eu cantei muito na noite, monto e desmonto uma aparelhagem de som tranquilamente”, orgulha-se.

Durval e Lúcia são pessoas que não se deixaram abater. Vivem plenamente em sociedade. “Existem pessoas completamente saudáveis, perfeitas fisicamente, mas que se deixam abater por pequenas coisas. Nem tudo que a gente deseja, a gente tem, mas eu deixo uma frase filosófica que diz: aquele que não vive pra servir, também não serve pra viver”, é a mensagem que o casal deixa aos leitores do “Folha Atual”. 

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