Quinta-Feira, 15 de Maio de 2025

ARTIGO: O homem de apelido estranho

Publicado em 15/06/2014
Por Marta Soares
ea9b47693f6bdd6dc83d9d35416d.jpg
ea9b47693f6bdd6dc83d9d35416d.jpg
/

 

Um dia, por volta das 14h00min, um grupo de garotos do lugar se divertia e tomava banho nas águas do rio aqui da região, num local mais ou menos fundo e próximo aos barrancos mais baixos e mais próximos do leito corrente do rio.  Em virtude de o local ser deserto e rural, todos eles, num costumeiro mas feio hábito, estavam banhado despidos, pois deixaram seus calções, bermudas e camisas sobre uma grama comum verde (conhecida aqui como capim de burro) que contorna ali o leito fluvial. Naquele momento, um senhor morador de uma localidade vizinha, e de apelido estranho, passava a pé pela estradinha que margeia a alta ribanceira do rio. Os garotos, impulsivos, em uníssono, gritaram o apelido do velho, e imediatamente se jogaram nas águas. O homem, então, desceu lentamente a ribanceira, veio e se aproximou das roupas dos meninos que o apelidaram, provocando-o; e, para desespero deles, ali pôs-se de cócoras, horas a fio na beira do rio, com suas roupas na mão, e sempre dizendo: “ Vocês vêm! Você vêm! Um dia vocês vêm! Vocês vão ter que me respeitar , cambada! Ou, então, vão ter que ir embora pelados pras  casas de vocês!”.

Começava a chegar o entardecer, e a noite já se aproximava... E os garotos desesperados e supostamente arrependidos, choravam e pediam perdão, chamando o homem pelo seu nome verdadeiro. Aqueles meninos não podiam ir embora nus, despidos, pois além de ser proibido e feio, ainda correriam o risco de levar uma sova dos seus pais. Os meninos chorando e com medo, insistiam em pedir desculpa e perdão, e imploravam: “Seu Fulano, por favor... Seu Fulano!”. Sempre invocando o nome verdadeiro daquele homem que ali os castigava. E o senhor, que odiava seu apelido, aparentemente impiedoso naquele momento, insultava: “Agora vocês aprenderam meu nome, é?  Engraçado, cambada!”.

Quando já ia anoitecendo, apareceu um outro homem do lugar, que, muito sério e moralista, pediu para aquele senhor devolver as vestimentas dos garotos. Mesmo chateado e sem querer, ele devolveu, e, assim, aqueles meninos puderam, finalmente, ir embora para casa, vestidos. Já era quase começo da noite. Esse fato ocorreu há muitos anos.

Este conto/causo faz parte do meu livro “PEQUENAS HISTÓRIAS DO MEU SERTÃO DE ANTIGAMENTE”. Todos os Direitos Autorais reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, sem a minha permissão e autorização por escrito.

EDIMAR LUZ é escritor/cronista, contista, poeta, articulista, memorialista, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.

Autor dos livros: “Memórias do Tempo”; “Poesias e canções”; “Sonetos”; “Guaribas: Lembranças e Histórias de um Rio”; “Pequenas Histórias do Meu Sertão de Antigamente”; “Homenagens”; “Pensamentos Meus” e “Crônicas”; E mais de 500 artigos e crônicas publicados em algumas revistas e em praticamente todos os jornais e sites/portais de Picos; num jornal de Teresina e nos sites nacionais Recanto das Letras e Clube dos Compositores do Brasil.

Comentários