Existem datas que não podem ser esquecidas, devem ser lembradas, não pela grandiosidade do acontecimento que representam, mas pela vergonha que guardarão para sempre, assim é o 31 de março de 1964, um dia de grande tristeza para o Brasil. Naquela ocasião a ordem foi subvertida e cidadãos civis treinados para o uso da violência, ou seja, os militares, utilizaram as armas compradas com o dinheiro do contribuinte brasileiro para depor o presidente legítimo do Brasil, escolhido através do voto popular, João Goulart, que preferiu não resistir e rumou para o exílio, no Uruguai, onde morreu em 1976, vítima de um infarto, dizem.
Aquele 31 de março não foi um ato desencadeado apenas pelos militares brasileiros, vale lembrar que os Estados Unidos aprovaram o envio de um navio para o Brasil com o intuito de ajudar as nossas Forças Armadas a combater qualquer possível resistência. E mais do que isso, o GOLPE, sim, foi um GOLPE, contou com o apoio irrestrito de setores reacionários da sociedade civil. Alguns dias depois esses civis, que esperavam livrar o país de pessoas com tendências esquerdistas, lamentariam muito, pois ao ascenderem à presidência do país, através do golpista Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, não largariam mais o osso do poder com tanta facilidade.
Foram 21 anos de regime militar no Brasil (1964-1985), marcado pela censura, perseguição política, prisões arbitrárias, crise econômica, concentração de renda e desfavorecimento das parcelas mais pobres da população. Uma “longa noite” que chegou ao fim devido ao próprio esgotamento do regime. Altos empresários e políticos conservadores retiraram seu apoio aos militares quando perceberam que não haveria mais vantagens para eles. Sempre foi assim na história do Brasil, as elites apoiam enquanto lhes convém, depois mudam de lado.
Com a grave crise do petróleo de 1973, quando o mundo árabe “fechou as torneiras”, encarecendo o preço da gasolina em todo o globo, a ditadura militar do Brasil, capacho que era dos americanos, perdeu as suas forças e teve de promover a abertura política, nas palavras do seu patrono, general Ernesto Geisel, de “forma lenta e gradual”. Era do interesse dos militares não serem punidos por tudo o que fizeram em 21 anos de arbitrariedades, apenas em 2013 criou-se a Comissão da Verdade no Congresso Nacional, medida necessária, mas que veio tarde. Ainda há aqueles que podem ser punidos, mas os mandatários do país naquela época, os cinco presidentes militares: Marechal Castelo Branco, Marechal Costa e Silva, General Emílio Garrastazu Médici, General Ernesto Geisel e General João Batista de Oliveira Figueiredo, já estão todos mortos, e não podem mais responder pelos seus crimes. Escaparam do julgamento dos homens, mas não do maior de todos os juízes, a História.
Hoje, cinquenta anos depois do golpe militar, vivemos uma democracia parcial, mas ainda assim uma democracia. Devemos mantê-la, prezando pela liberdade individual das pessoas, aquela que em nada afeta ou diz respeito ao coletivo. Triste é ver manifestações de saudosistas de um período tão sombrio da História do Brasil. Naquele 31 de março de 1964 não houve resistência, mas, e se nesses dias, se alguém tentasse cercear a sua liberdade individual através de um golpe, como você reagiria?
Jailson Dias é jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus de Picos. Historiador formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus de Picos. Especialista em Jornalismo Político e especializando em História do Brasil. É repórter do Jornal e Portal Folha Atual desde 2012, além de professor de Comunicação Social da Faculdade R.SÁ e assessor de comunicação da Prefeitura de Santana do Piauí.