O número de pessoas vivendo em situação de rua no Piauí chegou a 1.663 em março de 2025, segundo dados do Cadastro Único (CadÚnico), consolidados pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O dado representa um aumento de 1700% (ou quase 17 vezes) em comparação com o ano de 2013, quando apenas 93 pessoas foram registradas nessa condição no estado.
Nos três primeiros meses de 2025, o número de pessoas em situação de rua no Piauí apresentou uma leve redução, passando de 1.674 em janeiro para 1.663 em março, uma queda de 0,66% no trimestre. Apesar da variação, o cenário ainda é de alerta diante do salto registrado ao longo dos últimos anos.
A capital Teresina concentra a maior parte dessa população no estado, com 1.219 pessoas vivendo nas ruas no último mês de março.
Além do crescimento, outro dado chama a atenção: entre 2020 e 2024, Teresina registrou 149 denúncias de violência contra pessoas em situação de rua no Disque 100, serviço do governo federal voltado a violações de direitos humanos. As ocorrências incluem casos de agressões físicas e psicológicas, muitas vezes em espaços públicos, mas também em locais onde essas pessoas deveriam receber proteção e acolhimento.
Em todo o país, mais de 335 mil pessoas estavam em situação de rua em março de 2025, segundo o mesmo relatório. Isso representa um aumento de 0,37% em relação a dezembro de 2024. Em comparação com dezembro de 2013, quando havia 22,9 mil registros, o crescimento é de 14,6 vezes.
A maior parte dessa população (88%) está na faixa etária entre 18 e 59 anos. Crianças e adolescentes somam 3%, enquanto idosos representam 9%. O perfil majoritário é de homens (84%), com baixa escolaridade e rendimento mensal inferior a R$ 110, valor que corresponde a menos de 8% do salário mínimo atual (R$ 1.518).
A Região Nordeste concentra 14% dessa população, o equivalente a 48.374 pessoas. O Sudeste lidera com 63% (208.791 registros).
Em todo o país, foram registrados 46.865 casos de violência contra pessoas em situação de rua. As capitais concentraram metade dessas denúncias, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. A maioria dos casos aconteceu em vias públicas, mas também foram relatadas agressões em abrigos, unidades de saúde e outros equipamentos públicos.
O Piauí está entre os 12 estados que apresentaram aumento no número de pessoas em situação de rua nas capitais, ao lado de estados como Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco e Pará. Outros nove estados tiveram redução nos registros, e seis se mantiveram estáveis.
A pesquisa também destaca a relação entre a situação de rua e a falta de acesso a direitos básicos como moradia, educação e trabalho. Mais da metade das pessoas nessa condição não concluíram o ensino fundamental ou são analfabetas, o que dificulta a inserção no mercado de trabalho e a saída do ciclo de vulnerabilidade.
Capitais com os maiores registros no país:
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social afirma que tem retomado investimentos em capacitação de entrevistadores do CadÚnico e fortalecido a rede de acolhimento. Centros de referência como os Centros POP e os Creas oferecem atendimento especializado, refeições, acesso à higiene, emissão de documentos e apoio psicossocial. No entanto, especialistas apontam que as políticas estruturantes ainda são insuficientes frente ao crescimento da população em situação de rua.
Segundo o OBPopRua, o cenário continua desafiador: "O descumprimento da Constituição Federal de 1988 com as pessoas em situação de rua continua no Brasil, com pouquíssimos avanços na garantia de direitos dessa população."
Fonte: O Dia