Terça-Feira, 08 de Outubro de 2024

Casarão histórico de Picos é demolido

Publicado em 14/10/2013
Por Jailson Dias
bb651001ffb6ffc2a91701376223.jpg
bb651001ffb6ffc2a91701376223.jpg
Residência foi derrubada no centro de Picos/Douglas Nunes

Mais um pedaço da história local foi literalmente abaixo. O casarão localizado na Rua Francisco Santos, em frente ao Armazém Paraíba, Centro de Picos, foi demolido nessa semana por um investidor do setor privado. O fato foi notado primeiramente pelo escritor e cineasta Douglas Nunes que nasceu naquela residência em 1951. No ano de 1953 aconteceu naquela rua um dos fatos mais lembrados da trajetória picoense.

Ele relata que foi ali, em frente aquela residência, que um grupo de estudantes protestou contra o seu pai, o inspetor de ensino Alberto de Deus Nunes. Até hoje a história desperta paixões e controvérsias junto a sociedade picoense, especialmente porque um dos líderes do movimento foi Ozildo Albano. Douglas ainda diz lembrar-se de que ele e os irmãos eram postos pela mãe embaixo de uma mesa para se proteger de objetos que eram atiradas no telhado.

Dentre as pessoas que testemunharam a manifestação está o Pe. David Angêlo Leal que em 1987 entregou a narrativa do fato por escrito a Douglas Nunes. Na ocasião chegaram a fazer um “velório” do inspetor ensino, com uma grande cruz. Na versão do sacerdote, o protesto foi motivado pela recusa do inspetor de assinar boletins em branco.

Mas polêmicas a parte Douglas informou que pouco depois da manifestação cujo seu pai foi alvo, a residência foi vendida por 30 contos de réis, dinheiro da época. Em seguida a família mudou-se para a cidade de São Simão - SP. Nos últimos anos a casa era de propriedade de Zito Dantas. “Eu passei lá e tive um choque porque aquela casa é história, mas o que eu posso fazer?”, lamentou o escritor.

Nas mídias sociais muitas pessoas se manifestaram a respeito, demonstrando tristeza contra o fim de mais uma obra arquitetônica da cidade que deixa de existir para dar lugar a um novo empreendimento. Algumas pessoas reconhecem a dificuldade em se preservar imóveis como esses em Picos, cuja localização no centro da cidade chega a ser estimado em mais de R$ 1 milhão. A “Cidade Modelo” vem sendo caracterizada pela ausência de apego pelo seu passado

Comentários
Douglas Nunes
21/06/2014 18:21:39
Depois de meses, somente agora vi o texto do Gustavo. Naquela época, eu tinha somente 2 anos de idade. Mas o meu irmão Jeovah de Moura Nunes tinha 8 e se lembra perfeitamente (segundo ele) das pedradas no telhado. Ele é uma testemunha ocular. Então, em quem acreditar? Diz ele que (tem um Artigo de sua autoria) foi não somente um dia, mas vários dias de medo e terror. Possuo uma revista "FOCO" do ano de 2002 em que uma personagem, estudante na época, diz em tom de pilhéria: "Nós fizemos o enterro do homem (meu pai), acendemos velas na porta da sua casa, ele trancou as portas, ficou assombrado". Nada mais tenho a dizer.
GUSTAVO DE MOURA ALBANO
25/11/2013 19:55:35
No tocante à reportagem “Casarão histórico de Picos é demolido”, postada em 01/11/2013, do jornalista Jaílson Dias, tendo por fonte as opiniões do Sr. Douglas Nunes, excluindo-se a situação dos já raros prédios históricos picoenses – em progressivo processo de desaparecimento - que o diga o paredão da praça Félix Pachêco -, algumas questões merecem ser vistas sob a luz da razão. Referindo-se ao “Casarão”, reza a matéria que um grupo de estudantes picoenses, liderados por meu saudoso tio Ozildo Albano, rebelou-se contra um Inspetor de ensino picoense, o Sr. Alberto de Deus Nunes, morador do prédio no ano de 1953, sob o pretexto de o mesmo não ter assinado “boletins em branco”. Inconformados, estes estudantes dirigiram-se à casa deste, encurralando-o e atirando objetos contra ele e sua família. Os fatos em questão remontam ao final da década de 40 do século passado. Picos contava com três escolas primárias (Grupo Escolar Coelho Rodrigues, de responsabilidade do Estado; Escola Municipal Landri Sales, aos cuidados do município e o Instituto Monsenhor Hipólito, dirigido pelas Religiosas Filhas do Coração Imaculado de Maria, instituição particular). Quem tinha condições financeiras, ia continuar os estudos em outras paragens; quem não podia, não tinha outra opção a não ser parar de estudar ou esperar a criação do curso ginasial (hoje, Ensino Fundamental II). O Estado do Piauí era governado por José da Rocha Furtado e encontrava-se em grave crise econômica. Em Picos, a política era arraigada, girando em torno de duas siglas: a UDN – que elegeu o prefeito Celso Eulálio, e o PSD, sob a égide do Coronel Francisco Santos, num maniqueísmo absurdo, que os levava a ser contrários a tudo que o outro fazia. A UDN solicitou ao governador Rocha Furtado a criação do curso ginasial em Picos, mas este afirmou que o Estado não tinha como custear tal investimento. Foi então que o prefeito Celso Eulálio contactou a Câmara de Vereadores, para que o município arcasse com os custos da criação e funcionalidade da nova escola até que o Estado assumisse os encargos do colégio. Isto posto, a escola foi inaugurada em 1949. Fato este que foi questionado de imediato pelo PSD, não tardando o Ginásio Estadual Picoense a ser alvo de disputas políticas locais, tendo, inclusive, ameaçada suas atividades. Tendo como fontes a dissertação “Picos e a consolidação de sua rede escolar”, da Professora Doutora Jane de Sousa Bezerra, e o depoimento de um bom número de personagens que vivenciaram esse momento histórico, dentre eles Olívia Rufino, Alfredo Albano, Dimas Leopoldo Lélis e Dagoberto Rocha, conto o que ouvi em uníssono: O Sr. Alberto de Deus Nunes, que era coletor estadual, passou a ser inspetor da nação, sob indicação do PSD, quando este partido portou-se contrário ao funcionamento do colégio. Cabia, pois, ao Sr. Alberto Nunes, Inspetor de ensino, a assinatura das provas, obrigação inerente ao cargo que exercia (não se falava em boletins nessa época). Ao se recusar a assiná-las - e aí haveria a confirmação do fechamento do ginásio, foi instado pelos estudantes que se não o fizesse, teria a encenação pública do seu próprio enterro. E assim o fizeram, saíram da praça Félix Pachêco o grupo de estudantes munidos de uma grande cruz, caixão, padre, viúva, paramentos e carpideiras. Nas proximidades da praça encontraram o padre David Ângelo, que ao ver a grande cruz, protestou violentamente contra o que considerou como grave heresia. Foram à casa do inspetor, onde depositaram flores e velas. Ao final, retornaram à praça, onde deu-se o ato simbólico. Segundo as mesmas fontes, são fantasiosas as declarações de que houve violência contra a família do inspetor – o próprio padre David, que recentemente foi chamado às hostes celestiais - em depoimento ao livro Manifestações Poéticas, do próprio Alberto Nunes, é taxativo ao afirmar que a manifestação foi pacífica -, como fantasiosas também as que propagavam que os estudantes seriam recebidos à bala pela polícia a mando do próprio inspetor. A solução encontrada foi a que adotou o Sr.Justino Luz, prefeito da cidade pelo quarto mandato (1951-1955, o próprio Justino Luz ainda seria eleito uma quinta vez, de 1959 a 1963), que mandou mensageiro a Simplício Mendes onde se encontrava o titular da Coletoria, Sr.Longuinho Santana, que retornou a Picos, assinou os documentos pertinentes e resolveu o problema. Pra se ter uma ideia do momento em que se vivia, houve vereadores picoenses contrários à criação do estabelecimento de ensino ainda no ano de 1949, porque o crédito ficaria para a agremiação adversária. Antes ainda da votação na Câmara, deputados Estaduais picoenses já tinham se posicionado contrários também à criação pelos mesmos motivos. Não conseguindo evitar a criação do colégio, enxergaram no expediente da não assinatura das provas o modo de infligir à sigla adversária o revés sobre a institucionalização da escola, e o Sr. Alberto, como membro do PSD, foi obrigado a referendá-la. Essa mesma turma que o descendente do inspetor Alberto Nunes, Douglas Nunes, afirma ter vandalizado sua residência em busca de aprovação via “assinatura de boletins em branco”, foi a mesma que foi responsável por feitos ainda hoje lembrados da história de Picos, pelo seu pioneirismo, como artes, teatro, recitais, dança e encenação de datas festivas. Promoveram ainda atividades culturais com o intuito de angariar fundos para a compra de uma tipografia, deslocando-se Ozildo Albano até a cidade de Recife(PE) para a compra deste maquinário. Nascia assim “A Flâmula”, periódico de notícias do Ginásio Estadual Picoense. Este periódico também ilustra o livro do Sr. Allberto. Desnecessário, portanto, discorrer sobre a “ineficiência” desses alunos, ao ponto de precisarem forçar uma aprovação sem mérito. Dessa mesma turma, não tardaram a aparecer as primeiras aprovações nos concursos e vestibulares mais diversos, tendo legado advogados, juízes, funcionários públicos e toda uma gama de profissionais que tiveram sua existência umbilicalmente ligada ao Ginásio Estadual Picoense. Ademais, personagens contemporâneos aos fatos os há em abundância. Pq não contactá-los, sem a suspeição minha e a do Sr. Douglas Nunes, por estarmos tratando de pessoas tão próximas e tão queridas. História é Vida.
Josina Nunes
01/11/2013 19:54:37
Mais um monumento histórico vai ao chão,para dar lugar a um estacionamento. Que inteligente é esse proprietario sem noção.