O projeto de extensão que tenta mudar a cara do Sertão piauiense

A cidade de Picos é sede de um dos mais ousados e sociais projetos de extensão na área de Comunicação que a região já viu. Trata-se do projeto de extensão de Formação de Comunicadores Comunitários e Populares, capitaneado pela UESPI – Universidade Estadual do Piauí – que tem sua primeira etapa justamente em Picos. A cidade foi escolhida por conta de sua importância geográfica e também por causa de estar em uma das regiões mais pobres do Brasil, necessitando de imensa atenção da universidade.

A ideia do projeto é formar inicialmente acadêmicas e acadêmicos em Jornalismo compromissados com uma comunicação diferencial, contra-hegemônica, e, principalmente, interligada para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, trabalhando no campo, indo até as comunidades e grupos sociais. Esses acadêmicos até o final do ano realizarão trabalhos de pesquisa, vivências práticas e trabalhos de escutar as comunidades de seis cidades do Sertão do Piauí: Picos, Oeiras, Paulistana, Fronteiras, Valença do Piauí e São João do Piauí, municípios que já têm unidades da UESPI.

Com avaliações e oitivas de parte da população sertaneja do Piauí o projeto parte para sua segunda fase mais ousada, que é abranger todos os 151 municípios do Sertão do Piauí até o final de 2014. Com ideias, dados, oitivas, vivências e, principalmente, respostas sobre que comunicação temos e que comunicação queremos, o projeto entra, a partir de 2015, para sua fase de reverberação dessas discussões e sua ousadia maior, que é a instalação de dois cursos superiores na Universidade Estadual do Piauí: o curso de Tecnólogo em Radiojornalismo e o curso de Licenciatura em Educomunicação.

Esses dois cursos são praticamente inéditos em todo o Nordeste e hoje casam com as necessidades comunicacionais mais sociais e, principalmente de formação de novos atores sociais no Sertão do Piauí.

O tecnólogo em Radiojornalismo vai atuar justamente para a formação dos profissionais de radiojornalismo em emissoras comerciais, públicas e comunitárias, trabalhando na produção, edição, apresentação e mediação informacional. O licenciado em Educomunicação vai atuar na disciplina de Crítica da Mídia ou na de Gêneros Comunicacionais, já em discussão para aprovação no Congresso Nacional. Ambos serão oferecidos na plataforma de Educação à Distância (EAD). A UESPI é uma das melhores universidades do Nordeste a oferecer educação à distância.

Esse projeto é emblemático principalmente porque traz respostas sociais, quase que imediatas ao que a universidade mais se propõe a fazer: construir uma sociedade melhor. Destaca-se, novamente, que são as discussões na prática, em encontros comunitários, que podem ser feitos em zonas urbanas, zonas rurais, em quaisquer espaços, que definirão realmente os rumos desse projeto.

Em Picos o projeto só pôde ter início porque houve a presença massiva das e dos estudantes do curso de Jornalismo da UESPI da cidade (mais de 55% deles participaram das atividades em dois finais de semana consecutivos). O professor-doutorando Evandro Alberto de Sousa também tem papel crucial, pois ele comprou essa ideia de cara, sempre pondo-se à disposição. Também é mais que essencial o papel do professor-doutor Marcelo Neto, pro-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UESPI, que proporcionou desde o primeiro momento a concessão de bolsas de extensão, que permitirão o compromisso temporal e científico dos alunos envolvidos no projeto. Também é essencial o apoio da direção do campus da UESPI de Picos, com funcionários, coordenação e professores de Jornalismo, além do vice-reitor da UESPI, professor-doutor Nouga Cardoso, que se predispôs a ajudar no que fosse necessário não só o projeto, mas também todas as atividades no campus de Picos.

Agora é o momento da sociedade cobrar e se sentir parte desse processo, afinal ele é feito justamente para a sociedade, as comunidades. Não se faz uma universidade dela para ela, mas da sociedade, das pessoas para a própria universidade.

Orlando Maurício de Carvalho Berti

Jornalista, nascido e criado no Sertão do Piauí, andando e conhecendo um série de faces e interfaces na região de Picos. Professor efetivo (Assistente II – DE), pesquisador e extensionista do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo da UESPI – Universidade Estadual do Piauí. Estuda atualmente fenômenos comunicacionais ligados ao Sertão nordestino. Ex-professor e pesquisador dos cursos de Jornalismo da UESPI de Picos e da Faculdade R.Sá. É estudante do último ano do Doutorado em Comunicação Social na UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, por onde também é mestre na mesma área. Fez recentemente estágio doutoral na Universidad de Málaga, na Espanha.