Como acontece em todos os anos, dezenas de famílias carentes que residem em outros municípios do Nordeste, vem à cidade de Picos e passam os dias que antecedem o Natal em condições degradantes, debaixo da passarela que cruza a BR-316. Embora esperem a caridade dos moradores locais, nesse ano pudemos constar que os visitantes estão menos propensos a falar sobre a situação pela qual estão passando.
O Folha Atual esteve por lá tentando conversar com algumas pessoas sobre as difíceis condições em que vivem. A receptividade não foi das melhores. Ao anunciarmos que somos jornalistas, todos se afastavam imediatamente. Em off, algumas pessoas que estavam por lá dando assistência aos parentes, informaram que a hesitação em falar se deve ao medo de serem retirados daquele local antes do Natal.
Eles informaram que o Conselho Tutelar já esteve por ali e pediu que as crianças voltassem para casa, que não ficassem naquelas condições, sujeitas ao sol, poeira, insetos e pessoas ruins.
Apenas uma senhora que se identificou como Maria de Fátima, e alegou não saber a própria idade, quis falar conosco. Ela informou que é de Tauá – CE e que chegou a Picos há dois meses. Afirmando que faz uso de medicação psiquiátrica, disse sobreviver da ajuda que recebe do povo de Picos, daqueles que se solidarizam. Apesar dos seus cabelos serem negros, ela aparentava ter bem mais de 50 anos. A idade é difícil de ser precisada, uma vez que o aspecto varia de acordo com o tipo de vida de cada um.
Assim com as demais pessoas que estão passando esses dias que antecedem o Natal embaixo da passarela, ela se abriga em uma barraca de lona e papelão, algo que pode ser observado por quem transita pela BR – 316. Maria de Fátima informou que está só, pois seus dois filhos moram em Teresina – PI e sobrevivem da agricultura. Ela disse que deixará Picos após o Natal.
Dentre as pessoas que estão embaixo da passarela, pudemos constatar a presença de visitantes de vários municípios do Pernambuco também. Muitos pedintes se abrigavam embaixo da primeira ponte que passa sobre o Rio Guaribas nos anos anteriores, mas com a ampliação pela qual esta passou, e com a obra particular realizada ao lado, todos passaram a se concentrar na passarela.
As pessoas que estão na passarela não permitiram ser fotografadas de forma alguma, e até se indignaram quando fizemos os registros dos barracos e redes estendidas por todo lado. Alguns se irritaram ao achar que havíamos feito imagens deles e responderam com certa agressividade.
Ruas
Pelas ruas centrais de Picos, em meio às pessoas com sacolas de compras nas mãos, há inúmeros pedintes. Alguns já são conhecidos de quem vive ou vêm à cidade com frequência, outros são desconhecidos, mas todos estendem as mãos pedindo esmolas. Se o Natal é uma data festejada pelo comércio, também revela o que há de mais triste em nossa sociedade. A indigência de tantos, nos mostra isso.