Ele não gosta de dizer que abandonou tudo, pelo contrário, afirma que “abraçou tudo”. Desde 2001 o empreendedor social e ex-professor Marcos Camargo, 43 anos, natural de Cascavel – PR, já percorreu centenas de milhares de quilômetros em viagens pelo Brasil e exterior, contando apenas com a solidariedade das pessoas. Em Picos ele concedeu entrevista ao Folha Atual e falou sobre a sua vida e o projeto “Brasil de Carona”, iniciado em 2014, cuja conclusão está prevista para 2019.
Marcos afirmou que é motivado pela curiosidade e o desejo de conhecer novas pessoas. A sua vida nômade começou em 2001 quando foi até Buenos Aires, na Argentina, para compreender a crise econômica e social pelo qual o país passava naquela época. “É um país que está muito próximo da gente, então do Paraná a Buenos Aires eu fiz mais de 2.000 km de carona, sem nunca ter pegado carona na vida; fui com a cara e a coragem”, comentou.
Ele relata que fez o trajeto com US$ 12,00 (doze dólares) no bolso e quando retornou ainda tinha R$ 9,00 (nove dólares). Marcos disse ter feito a viagem em seis dias, ida e volta, permanecendo 15 dias em Buenos Aires. O professor conta que já esteve em todos os países da América Latina, incluindo Cuba, México e Guatemala. “Fui ampliando essa experiência e o meu desejo é não parar nunca”, relatou.
Crédito: Marta Soares
As viagens foram intensificadas a partir de 2012 e no ano de 2014 lançou o projeto pessoal “Brasil de Carona”, através do qual pretende percorrer os 26 estados brasileiros e mais o Distrito Federal, o que totalizará mais de 80 mil quilômetros. Ele já completou 65 mil quilômetros desse trajeto e ao final lançará um livro. Em cada cidade que ele chega, consegue hospedagem com alguém e compartilha a sua experiência. Em Picos o mochileiro foi acolhido pela jornalista Marta Soares.
Marcos relata que a sua principal forma de conseguir carona é na estrada, com o dedo polegar levantado. Ao longo desse tempo ele disse que tem descoberto o ser humano, pois as pessoas se mostram extremamente solidárias e às vezes até choram ao falar sobre as próprias vidas. Indagado sobre os perigos enfrentados, o professor informou que foram poucas as situações alarmantes. Em uma delas, percorreu em uma canoa de alumínio um rio afluente do Amazonas à noite, repleto de jacarés, mas disse que procura ter fé para vencer o medo.
“Eu vou através da confiança no invisível, a pessoa pode chamar de Deus, pode chamar de Universo, de Alá, do que for, mas acho que alguma coisa para além daquilo que é palpável acontece no dia a dia”, comentou.
Ele afirma que tem o apoio da família para o seu projeto, e que a sua mãe declara para todo mundo que ainda vai acompanha-lo nessas viagens. Como é pai de uma menina, Marcos informa que todo o dinheiro que consegue através de doações e da confecção de chaveiros e ímãs de geladeira é destinado para ela. “Eu não abandonei nada, não abandonei minha filha, meus pais, minhas irmãs, apenas abracei mais coisas”, declarou.
Mesmo com essa vida nômade, Marcos não se considera livre, por entender que essa é uma impossibilidade. “Acho que tenho feito o exercício de coisas em que eu acredito, uma delas é a gratidão, a outra é a generosidade e quando eu era professor eu era livre, mas queria ser mais ainda, pois queria chegar ao coração das pessoas, e como não é intermediada pelas coisas materiais, é mais fácil fazer isso”, finalizou.