Sábado, 15 de Novembro de 2025

FONATRAN emite nota pública em repúdio ao termo Ideologia de Gênero

Publicado em 04/06/2017
Por Redação
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Imagem Ilustrativa/

O Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRAN) emitiu na manhã desta sexta-feira (10) uma nota pública de repúdio às significações dadas ao termo “Ideologia de Gênero”. A nota esclarece que o termo foi cunhado por fanáticos religiosos para desconsiderar os debates que tem sido travado nas instituições de ensino e na sociedade acerca do Gênero.

O Movimento enfatiza que a nota em nada repudia o ato de manifestação dos Casais Paroquianos de Picos que rezaram um “Terço em Família” em defesa dos valores familiares e cristãos, mas sim às declarações dadas.

Confira a nota na íntegra!

FONATRAN - Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros

 

NOTA PÚBLICA CONTRA O TERMO IDEOLOGIA DE GÊNERO

 

O Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros – FONATRANS, constitui-se num espaço nacional de inclusão e aglutinação à militância destes dois segmentos, sendo estes independentes ou através de OSC (Organização da Sociedade Civil) e visam a articulação com o Poder Público, bem como com o Terceiro Setor e iniciativa privada com o objetivo maior de propor a criação políticas públicas específicas e estratégicas e a ampliação das já existentes.

O mesmo é um dispositivo legítimo e reconhecido nacionalmente como Movimento Social Político Organizado de Travestis e Transexuais, e prima prioritariamente pela cidadania plena e a luta contra o racismo, preconceito e discriminação sofridos por esta população, motivados exclusivamente por sua identidade de gênero, raça e cor.

Nós, pessoas que compomos o movimento de Travestis e Transexuais de Picos, vimos pela presente Nota Pública explicitar e elencar alguns pontos para sociedade picoense acerca do discurso que tem se reverberado em alguns espaços acerca do que chamam "Ideologia de Gênero". Esse termo foi cunhado por fanáticos religiosos para desconsiderar os debates que tem sido travado nas instituições de ensino e na sociedade acerca do gênero.

O Brasil continua refém da colonização e propagar esse discurso corrobora exatamente com essa afirmativa. Se perguntar a qualquer pessoa o que significa o termo, a grande maioria não saberia responder. Apreenderam que é algo ruim, que é contra a família, que ataca as crianças e assim vão levando essas informações atabalhoadas adiante.

Ora, eles entendem piamente que a família está contida em marido, mulher e filhos, nessa ordem hierárquica onde o sexo masculino tem o poder sobre tudo. E a submissão feminina deve ser cultivada e potencializada. Qualquer conotação familiar que fuja desse entendimento é vista como se não pudesse ser reivindicado como família, eles esquecem que existe muitas outras formas de famílias porque as sua visões estão sempre voltadas para o universo LGBT.

Aí misturam tudo numa profusão de discursos atravessados ora defendendo as formas de família que acreditam seja a única que exista, ora colocando as crianças nesse pacote para sensibilizar a sociedade e assim vão cometendo os mais diversos absurdos com discursos inflamados.

O estranho é que essas mesmas pessoas emudecem quando os casos de pedofilia ganham as manchetes de jornais, não se sensibilizam com as crianças do Norte do Brasil que são vítimas de Trabalho Escravo ou das crianças que trabalham na prostituição no Nordeste do Brasil. Quais crianças eles defendem mesmo?

Nós vamos ficar com os conceitos apresentados por pesquisadores que estudaram com afinco essa matéria, vamos continuar rechaçando as políticas e políticos que misturam ela com religião. Reafirmamos que respeitamos a Constituição Federal do Brasil como documento principal que resguarda direitos e deveres, e nos curvamos ao Código Penal Brasileiro para que o mesmo tire a venda dos olhos e possam ver o que a gente enxerga há muito tempo.

Nos últimos dias na cidade de Picos-PI, certo grupo de pessoas intituladas religiosas a qual dizem pregar o amor se reuniu diante da igreja matriz da cidade para passar informações ignorantes acerca do que eles chamam de “Ideologia de Gênero”. Até aí tudo bem, é o direito livre de manifestação a qual não temos nada contra, mas ao deparar com matérias em sites da cidade a qual um juiz de grande expressão deu depoimentos equivocados carregado de ódio e de homofobia. Temos que entender que discurso de ódio não é opinião e ao protestar contra qualquer tema que se sentirem incomodados, essas pessoas, principalmente os magistrados, deveriam saber o que estão falando para não serem coniventes com mais de 340 assassinados anuais de pessoas LGBT no Brasil, somos o país que sozinho mata mais LGBT no mundo, perdemos até para países da África e Ásia. Assim sendo, as entidades abaixo que assinam essa Nota, repudiam veementemente as falas distorcidas e carregadas de vícios tendenciosos. Mais uma vez reafirmamos o nosso compromisso de combater a pedofilia em todas as suas vertentes, dentre elas as que ocorrem na igreja que ora o mesmo grupo que repudia a discussão de gênero se cala diante dessa aberração que acontece diariamente aos olhos das santidades eclesiásticas e diante dos fiéis magistrados que compõem o seu rebanho.

NOTA PÚBLICA EM PDF

 

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