Terça-Feira, 08 de Outubro de 2024

Rafaela Silva sai das ruas de uma das favelas mais violentas do Rio para o pódio olímpico

Publicado em 31/01/2016
Por Erivan Costa
8a90a67650fecec9854c3a87ca79.jpg
8a90a67650fecec9854c3a87ca79.jpg
Rafaella Silva com a medalha de ouro/Marcelo Theobald / Extra

O ouro conquistado por Rafaela Silva nesta segunda-feira foi a medalha da superação, da vingança, da volta por cima e mais mil e um adjetivos que possam ser utilizados, de acordo com a própria judoca. Nascida na favela Cidade de Deus, na Zona Oeste, ao triunfar na categoria até 57kg nos Jogos Olímpicos Rio-2016, a atleta nada cobrou mas fez vários desabafos e ainda exorcizou todos os problemas que acompanham uma pessoa que, desde o nascimento, passou por privações.

- Uma medalha de ouro para o Brasil é muito importante. Se é de uma negra ou branca não faz diferença. O importante é que estou com a medalha, representei bem o meu país e espero que o Brasil consiga outras - disse Rafaela ao ser questionada sobre a importância de uma negra ter obtido o feito.

A questão racial é só mais um ingrediente na vida de Rafaela. Pobre, nascida, criada e moradora de uma das favelas mais violentas do Rio, a judoca se envolveu em um episódio polêmico, justamente por causa da cor de sua pele.

Derrotada nos Jogos de Londres-2012 logo no combate de estreia, Rafaela foi ofendida em um de seus perfis na rede social. Revoltada, respondeu às agressões e quase foi punida esportivamente.

- Eles falaram que o judô não era para mim, que eu era uma vergonha e que lugar de macaco era na jaula. Agora, minha resposta é a medalha no meu peito -- frisou Rafaela.

O episódio de agressão nas redes sociais fez com que Rafaela desistisse do judô. E foi nesse momento que apareceu a coach Nell Salgado, do Instituto Reação, para ajudá-la.

Rafaela contou que Nell a fez somente uma pergunta: "Você se vê daqui a dois anos fora do judô"? Após pensar, a atleta resolveu retomar os treinamentos.

Desde os cinco anos na modalidade que a levou nesta segunda-feira à categoria de heroína olímpica, Rafaela só conseguiu percorrer o caminho da glória porque seu primeiro técnico, Geraldo Bernardes, a apoiou.

- Devo tudo ao professor Geraldo. Ele que acreditou, incentivou. Acho que tudo o que ele fez por mim posso retribuir com essa medalha - reconheceu Rafaela.

E "coisas" feitas por Geraldo não faltaram desde que se uniram aos cinco anos até hoje, quando Rafaela já tem 29 anos. A judoca perdeu a conta de quantas vezes o técnico pagou para ela poder lutar.

- Minha família é pobre. Não tinha condições. O meu primeiro quimono foi ele quem me deu. Era grande, mas era o que tinha para treinar. Uma vez ganhei o direito de competir no exterior, por ter vencido um campeonato. E ele foi lá e passou o cartão dele para eu viajar. Só assim consegui ir - lembrou Rafaela.

Após a conquista, Rafaela exaltou a Cidade de Deus, justamente por reconhecer que a comunidade oferece poucas oportunidades. Em nenhum momento reclamou do passado de dificuldades e preferiu olhar para o futuro.

- Essa medalha mostra que se uma criancinha tem um sonho, mesmo que ele demore a acontecer, ela deve acreditar porque pode ser realizado. Perdi em Londres e demorei quatro anos para ganhar, mas acreditei.

Ao fim da conquista, Rafaela só queria realizar um desejo: comer fast-food. Para manter o peso, sua dieta estava rigorosa e nem podia pensar em degustar um hambúrguer.


Fonte: EXTRA

Comentários