:::::Um Piauí de bêbados, homicidas e impunes. Todos os dias há uma tragédia Salve Rainha
Por: Orlando Berti*
O Piauí continua chocado com o caso que vitimou os membros do coletivo cultural Salve Rainha. A tragédia, ocorrida em Teresina nos minutos finais de 26 de junho deste ano (um domingo), provocou a morte de Bruno Queiroz e deixou muito grave Jáder Damasceno e Júnior Araújo (que está entre a vida e a morte). O caso da tragédia contra os membros do Salve Rainha não é isolado no Piauí. Acontece todos os dias no estado. Bêbados, que assumem o risco de matar, saem por aí atropelando e esfacelando vítimas. Quase não há punição. E, como uma bola de neve, só cresce.
Na ciranda da irresponsabilidade há o prazer e a hipocrisia social da aceitação da droga álcool como algo normal e até como sinônimo de status social. Veja as redes sociais virtuais. Muito do que acontece são pessoas, principalmente jovens, ostentando garrafas e mais garrafas de bebidas. O “encher a lata” é tido como normal. Aliás, é direito de qualquer um desde que tenha mais de 18 anos.
Agora será direito pegar um veículo (seja carro, moto, lancha, jet sky) e perambular por aí matando o semelhante? Será direito andar por aí a mais de 150 quilômetros por hora? Será direito furar sinal vermelho? Será direito fugir sem prestar socorro às vítimas?
É essa hipocrisia que alimenta os homicídios diários Piauí adentro no trânsito. Mata-se mais e mais. Cada dia a imprensa noticia atrocidades. E em vez de termos exemplos parece que temos é incentivo para matar. Mostra que uma vida não vale nada. Mostra que só quem perde é quem geralmente não tinha nada com a situação de “lata cheia de cachaça” dos agressores. No Piauí não tem ninguém preso por matar outras pessoas no trânsito. O máximo que tem ocorrido é o pagamento de algumas cestas básicas. E pronto!
São motoqueiros sem capacete, outros estão ao volante. Muitos atropelam aos montes, são suicidas em potencial que acabam suas vidas, que acabam vidas de outras pessoas, que ajudam a abarrotar hospitais, principalmente os públicos, tirando o lugar de quem realmente precisa. O Piauí é campeão em assassinatos no trânsito.
E de quem é a culpa? De todos nós. A gente porque acha bonito e normal alguém beber e sair dirigindo. Do Estado por ter pouco efetivo e por fiscalizar. Dos cidadãos que avisam quando há fiscalização. Da pouca punição. E quando há punição elas são brandas.
Há menos de um etilômetro por município no Piauí. A maioria dos municípios não têm esse aparelho. Aliás: tem cidade piauiense que os políticos sequer querem fiscalização. Outras até tentam proibir o uso do capacete. Enquanto isso bares são lotados de gente bebendo e depois indo para casas conduzindo veículos. Por isso choramos tanto, e quase que diariamente, vendo gente morrer no trânsito. Algumas delas terminam matando inocentes.
Se continuar assim permaneceremos a lamentar, dia após dia, não só os queridos do Salve Rainha, mas a minha, a sua, as nossas mortes, ou falecimento de parentes e amigos. Em hora dessas só pedir a Deus para nos proteger, rezando Salve Rainha, Credo, Pai Nosso e todas as orações possíveis, pois só Ele para nos fazer nos mancar sobre o estado de coisas e fatos que têm emporcalhado nossa sociedade.
* Jornalista e professor universitário.
:::::Um mar de esperança em Velho Chico
Dona Encarnação senta-se às margens da correnteza a espera do Gaiola Encantado. Diz à lenda que a embarcação traz de volta as almas dos ribeirinhos que foram tragadas pelo rio, e ela aguarda a volta do menino Inácio que se perdeu nas águas do Velho Chico, quando ainda criança. Na capela situada no quintal da casa grande, três fios de cabelo de Nossa Senhora prendem a Serpente de Fogo suspensa junto ao teto que, se libertada, voltaria a reivindicar o território que um dia lhe pertenceu.
Cercada de mistérios, Grotas do São Francisco é uma cidade fictícia que, na caneta de Benedito Rui Barbosa, transforma-se numa janela multicor de onde se enxerga o vaqueiro com sua indumentária de couro a buscar o boi brabo no mato serrado; o rio a se arrastar de barriga vazia entre pedras e espinhos, carregando a vida cabeça abaixo; o pescador que lamenta o encantar dos peixes e a fome de panelas vazias a mergulhar na cachaça. Um grito de socorro ecoa entre paredões em rochas vermelhas e de luar empoeirado.
A caneca soa no fundo do pote: tibungo! A lenha acende a brasa, sustentáculo das labaredas, beijoqueira do fundo do tacho, que cozinha a refeição. O guarda-louça guarda as louças e o carinho da dona de casa no abrir e fechar das asas. O bode aberto em carne deita na mesa do almoço e no couro espichado a ser vendido na rua. A presença de Deus é revelada nas imagens santas montadas nos oratórios e nas orações proferidas com a voz embargada em um olhar clemente. Nas meizinhas de dona Ceci, há cura para tudo. A base da rapa de pau, a raizeira abençoa a todos sem cobrar divisa e sua permanência sobre a terra só tem sentido se praticar o bem.
Existem também as trapaças do coronel que, com mão de ferro, esmaga a classe desfavorecida e, ao mesmo tempo, mostra-se incapaz de administrar a própria família; também está presente o ódio que habita o peito de Bento dos Anjos, o mesmo só encontra alento no colo e nos ideais da professora Beatriz. “O sofrimento fez de Santo um grande homem”, afirma padre Benício sobre o presidente da cooperativa e líder da comunidade que, como retirante fugindo da seca, chegou à região ainda menino e caminha em passos firmes em busca da paz e da justiça ancorado na memória e no exemplo deixado por Capitão Rosa e painho Belmiro. Em se tratando de trilha sonora, por lá desfilam Maria Bethânia, Caetano Veloso, Marisa Monte, Amelinha, Xangai, Vital Farias, Tom Zé, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Luiz Gonzaga. Renato Russo traz Camões e o apóstolo Paulo a tira colo; enquanto José Miguel Wisnik preferiu o poeta barroco, Gregório de Matos Guerra.
Velho Chico é um mar de esperança na teledramaturgia brasileira, ora tão sedenta de inteligência, invenção, criatividade e cultura. É daquelas que apresentam os amores impossíveis, impossíveis de esquecer; das paixões que ardem em chamas, nos banhos de rio. É dona de um texto primoroso, carregado de metáforas, apêndice da sabedoria popular, que mareja das raízes profundas que sustentam a terra.
O cenário exuberante dos vilarejos encravados nos grotões de dentro, retrata uma vida Severina, independente da riqueza ou da pobreza, diz que ninguém pode fugir da lida diária. Nem o Chico Criatura que tange a vida preguiçosamente em motes e glosas. E o personagem principal, o São Francisco?! Esse se apresenta como animal ferido, a gemer, a sangrar, a chorar, a pedir piedade, mas a ganância do homem não lhe dá ouvidos. E assim, o rio corre devagar até o descanso eterno nos braços do mar.
Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Lisboa-Portugal. Email: frassis88@hotmail.com
:::::CRENÇAS
*Por Graça Moura
Optei por ter fé, ser crédula!
Apesar das adversidades, dos percalços, e até de concretas razões para descrença, prefiro continuar acreditando.
Deliberada e espontaneamente, portanto, acredito.
Acredito num ser supremo que tem colocado à minha disposição, o que necessito para viver e para acreditar, em mim, nas pessoas, na vida...
Acredito nas profissões e na ciência psicológica.
Acredito, portanto, que nada acontece por acaso.
Acredito nos meus clientes e nas parcerias. Acredito na importância da afinação dos solos individuais para produção de harmonia conjunta.
Acredito nos jovens, nas crianças, nos adultos, na minha família, nos meus amigos.
Acredito que a vitória é quase sempre, consequência natural de luta, esforço e persistência. Independe, pois da sorte, de amigos duvidosos, de pessoas teoricamente mais influentes, de políticos, de chefes, de puxa-sacos...
Acredito em paciência e tolerância como atributos de fundamental importância para instalação e manutenção de climas de harmonia, serenidade e tranquilidade, nos relacionamentos.
Acredito no poder da respiração, da meditação, e da oração.
Acredito firmemente que comportamento gera comportamento, e que na maioria das vezes as pessoas se comportam comigo, de acordo, ou em função da forma como eu me comporto com elas.
Acredito no poder de transformação da Arte, da Educação, da Cultura.
Acredito nos efeitos terapêuticos da música e do riso.
Acredito nas Artes Marciais e nas reservas inesgotáveis de transformação que possui cada criatura humana.
Acredito na importância do saber, do saber fazer e do saber SER.
Acredito no poder da nossa mente e suplico diariamente paciência para ser tolerante com os que não acreditam em nada, (nem neles próprios) e muito menos nas coisas nas quais eu acredito.
Finalmente acredito no perdão, como fonte de poder e estou sempre pronta para perdoar. Ao contrário do que muitos dizem, acredito que o perdão não cansa de perdoar...
Já perdoei muito, e vou continuar, com dificuldade, mas, com alegria, perdoando... Inclusive aos que me ofendem... Sim, porque compreendo que também posso ofender, e quero obviamente ser perdoada quando isso acontecer!...
Acredito por fim, que não devo ferir nem magoar, nem caluniar ninguém, nem mesmo aqueles de quem porventura eu não tenha motivos para gostar...
A vida é bela e a maior e mais saudável crença é a que nos reafirma
diuturnamente que só o amor constrói... Acreditemos, pois no amor, porque é natural e possível, Que tal pensar nisso? ....Vamos lá? Juntos?
Graça Moura é Psicóloga. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco
CRP 11/03068x