Segunda-Feira, 17 de Novembro de 2025

Confira os artigos da 65ª edição

Publicado em 22/11/2015
Por Marta Soares
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Orlando Berti, Graça Moura e Francisco de Assis/Arquivo pessoal

::::A guerra do novo cangaço no Piauí. De um lado bandidos sanguinários. Do outro: uma polícia que age para matar::::
Por Orlando Berti*

Maio de 2016 marca o período da maior caçada já feita este século pelas polícias do Piauí a uma quadrilha de assaltantes a banco. 

De um lado bandidos que têm o prazer de tocar terror, roubar, matar e ostentar que gostam de “cabeças de policiais” (e no sentido literal da palavra: mortos e decapitados), inclusive já tendo feito isso em Pernambuco e Bahia.

Do outro lado: uma polícia aguerrida, há mais de duas semanas no meio do mato, atuando na divisa entre Piauí e Bahia, para tentar acabar com o “novo cangaço” em terras piauienses. 

Aliás, nem o antigo cangaço, em épocas de Lampião e congêneres, chegou ao território piauiense. O novo, oriundo do Sertão de Pernambuco, e apoiado por algumas pessoas do Piauí, quer implantar essa filosofia bandida em nosso estado. Conseguirão?

Nesta quinta-feira (18 de maio) foi realizada a prestação de contas da maior operação do ano contra um grupo criminoso no Piauí e a maior ação policial este século no estado contra uma quadrilha de assaltantes de banco. Quase dez armas, metade delas de guerra (as mesmas utilizadas pelo Estado Islâmico), farta munição (superior a de batalhões inteiros da Polícia Militar piauiense) e dinheiro foram apresentados à imprensa.

Toda essa ação foi gerada após a explosão e roubo ao Banco do Brasil da cidade sertaneja piauiense de Curimatá (a longínquos 786 quilômetros ao Sul de Teresina). Mais um. Foi em 05 de maio. Essa é a única região do Piauí em que o novo cangaço continua agindo e tendo êxito nos últimos anos.

A operação que mobiliza mais de cem homens, quase 20 viaturas, dois helicópteros e estrutura de batalha já prendeu seis dos acusados de serem cangaceiros contemporâneos.

Outros cinco acusados foram mortos em confronto com as polícias piauiense, pernambucana e baiana. Elas se uniram para dar fim à mais sanguinária quadrilha de assaltantes de bancos a agir este século no Sertão nordestino.

Ainda há três acusados no meio do mato. Segundo divulgado pela secretaria de Segurança Pública do Piauí, estão fortemente armados e com a maior parte do dinheiro roubado da agência bancária.

Segundo o delegado da Polícia Civil do Piauí, Gustavo Jung, membro da GRECO – Comissão de Combate ao Crime Organizado – as mortes dos bandidos ocorreram em confronto com a polícia. “Tentaram nos atingir e tivemos de neutralizar”, disse o jovem delegado que complementa dizendo que bandidos do tipo participam da modalidade novo cangaço e que não respeitam ninguém. “O prazer deles é matar policiais. Eles têm a polícia como troféu”, exemplificou.

O fato da eliminação de bandidos em caçadas policiais continua mais que polêmico. Será que a máxima: bandido bom é bandido morto tem de ser realizada? Ou, assim como o cangaço de cem anos, bandidos tocavam o terror e a polícia respondia a altura, inclusive desfilando com corpos e cabeças dos opositores como se fossem troféus.

A polícia segue uma máxima no Piauí: em cidades em que houveram caçadas homéricas e repressão forte a quadrilhas, como em Picos (a 307 quilômetros de Teresina), no final da década de 1980, como em Simplício Mendes (a 385 quilômetros da capital), no final da década de 1990, e Pedro II (a 206 quilômetros de Teresina), no início do Século XXI, bandidos foram mortos em trocas de tiros e nunca mais ocorreram assaltos às agências bancárias.

*Jornalista e professor universitário.

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:::::COMO VOCÊ VIVE O SEU TEMPO?:::::
Por Graça Moura

Acredite, existe um tempo para cada coisa. Tempo para chorar, tempo para sorrir. Tempo para calar, tempo para falar. Tempo para plantar, tempo para colher. Tempo para sofrer, tempo para perdoar. Enfim, o tempo certo para cada acontecimento. E nós sabemos disso... E não podemos apressar o tempo... E nem nos apegar ao tempo! 

Importante viver cada coisa ao seu tempo. 
Como você vive o seu tempo? 
Existem pessoas que têm muita dificuldade para viver o presente, o aqui e agora. 

Quantos de nós não vivemos angustiados, com medo do futuro que está por vir ou apegados a um passado que machucou e nos fez sofrer? 

As pesquisas apontam para um fato, no mínimo curioso: apenas cinco por cento das pessoas vivem o momento presente, o aqui e agora. Setenta por cento vive remoendo dores, desenterrando defuntos, relembrando pesadelos, cheios de recordações inúteis. Vinte e cinco por cento, com olhos fincados no além, temendo o que ainda está por vir, entupidos de exageradas preocupações com o futuro. 

A verdade é que de concreto só temos mesmo o presente. O passado, já passou! O futuro ainda está por vir. Vivendo o presente estaremos cultivando o bom passado e preparando-nos para viver um bom futuro. 

Tenho uma certeza: os que resolverem viver o presente vão dar o melhor de si, usar o seu tempo da melhor maneira possível, de forma absolutamente produtiva e certamente se darão conta de que não dá para viver chorando o leite derramado. A vida é uma dádiva divina, um presente, e nos foi dada de graça. Devemos, portanto, vivê-la intensamente!     

Que tal viver o momento presente? Parar de esperar que as coisas melhorem para começar a mudar ou a fazer algo. Comece agora. Não espere mais. Não espere mesmo. E por uma razão muito simples: você não sabe quanto tempo você tem. 

Dra. Graça Moura
Psicóloga, formada pela Universidade Federal de Pernambuco

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:::::Ecos da seca::::: 
Por Francisco de Assis Sousa

O tempo fica nublado, mas não são nuvens de chuva que escondem o sol, parecem mais capuchos de algodão desgarrados para um lado e outro. “Lá está, parece um coração! Não! Coração, não! É a banda de uma maçã!” A criança olha para o céu e procura a sua subjetividade. Através da movimentação dos nevoeiros, atiça a imaginação. “Elas se mostram tristes! Será por quê?” E o vento corre solto no seio da mata, a balançar os galhos da favela, do marmeleiro, da aroeira.  

Um tapete amarelado se forma em folhas amassadas que se alojam sem vida no solo bruto, adormecido desde que as últimas gotas resolveram partir. Parece que chora, o seu corpo se abre em infinitas bocas sedentas de água, mortas de sede. “Chuva, agora, só lá pra dezembro. Isso se o ‘inverno’ começar no tempo certo. Caso contrário, só Deus sabe o que pode acontecer”. 

O barreiro de João já secou; o de Francisco resta pouca água. “À tarde, quando levo o gado para dar de beber, o restinho de água que tem já está barrenta”. Os porcos se apropriam das poças, se enlameiam, a fim de acalmar o calor, enquanto a ventania cresce em redemoinhos. “Fecha a porta menino! Olha o ‘ridimunho’! Cruz credo! Dizem que o capeta viaja dentro dele. Por isso que devemos nos colocar diante da porta e fazer uma cruz com os dedos. Só assim, o ‘bicho’ se desvia da gente. Sai pra lá coisa ruim!”  

A aroeira, as juremas, com os galhos esticados e nus, parecem veias pedindo socorro ao céu. Rezando uma prece para São Pedro. Um punhado de cabras se aproxima. Busca alimento. Um bode, com fome, é capaz de escalar o mais alto dos morros para sugar, na fenda mais estreita que permita a entrada de seu focinho, aquela folhinha dissecada, sem resistência, que se encontra deitada, silenciosamente, no fundo do vazio que separam as pedras. Já a ovelha, carece de maiores cuidados. Quando falta o verde, tem que ter o auxílio da ração. Caso contrário, não segura em pé.  

O vaqueiro, com seu gibão de couro, sela o cavalo.  O pasto está indo embora. É chegada a hora de mudar o gado de roça. “O patrão alugou um cercado na Serra Azul. Só vai o gado solteiro. As vacas de leite têm que segurar na ração. O período do verão só está começando. Imagine quando chegar o ‘miado’ de dezembro e ainda não tiver chovido?! Aí o bicho pega! Tem que vender, a preço baixo, umas para dar de comer as outras, como ocorreu no ano passado. Mas Deus é Pai e não vai permitir que esse sofrimento se repita novamente. Aí já seria demais. Três anos de seca não tem diabo que aguente. Pode quebrar a cangaia do jumento e amarrar uma lata no rabo da égua. Ninguém escapa, não!” 

E o vento não para. As folhas se arrastam pelos barrancos, onde as cobras se escondem para a captura dos lagartos, dos preás. A mata está nua. Dorme o seu sono de verão. Um sono triste, cinzento, de goela seca, de coração apertado, de olhar espantado. Chora a ausência do amor que partiu, a saudade espetada pelo vazio do riacho que, agora, ao invés da enxurrada, desfila o guaxinim, a raposa de alma magra, de olhar aguçado, sarapantado, ao sentir o cheiro do cão que descansa, preguiçosamente, na sombra do juazeiro.  

Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Mestrando em Ciência da Educação pela Universidade Lusófona de Lisbos-Portugal. Email: frassis88@hotmail.com

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