Segunda-Feira, 17 de Novembro de 2025

Autismo: não se esconder faz bem

Publicado em 22/10/2015
Por Marta Soares
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O'hanna e Arthur/Arquivo pessoal

“Arthur foi um bebê totalmente normal, risonho e interativo até um aninho. A partir daí, começou a ficar mais sério, introspectivo. Não olhava quando chamávamos e nem nos olhava nos olhos. Não atendia comandos simples, como ‘pega a bola, Arthur’. Também não se interessava por outras crianças da mesma idade e desenvolveu uma estranha fixação por ventilador e rodas dos carrinhos”. A descrição é da estudante O’hanna Martins, mãe do Arthur Martins de Araújo Gonçalves, de 2 anos e 3 meses. 

Receber o diagnóstico que o filho tinha Autismo não estava nos planos da mãe de primeira viagem. Arthur teve um desenvolvimento considerado normal até o primeiro ano de vida, depois passou a regredir. Já não falava, era introspectivo, caminhava na ponta dos pés e tinha movimentos repetitivos com as mãos. Esses pequenos sinais chamaram a atenção da família.

Arthur então foi encaminhado a uma neuropediatra que o diagnosticou com Autismo, mas ainda sem grau ou classificação definida. A notícia pegou os pais de surpresa, mas para O’hanna, o diagnóstico precoce possibilitou que Athur tivesse o melhor acompanhamento multidisciplinar com psicóloga, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e Psicopedagogo. 

“Quando a gente descobriu fomos direcionados para Teresina, porque em Picos não tem Neuropediatra, que no caso é quem pode diagnosticar isso. O Arthur é outra criança depois da intervenção. A médica disse que talvez o Arthur não falasse nunca e fazemos fono há cinco meses, ele já está um tagarela, fala pelos cotovelos”, comemora O’hanna.

O'hanna e Arthur

Segundo pesquisas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, cuja informação está na revista Pais e Filhos, 1 a cada 50 crianças está no espectro do autismo, sendo que a probabilidade de desenvolver em meninos é três a quatro vezes maior que em meninas. Por isso a cor do autismo é azul, uma referência ao sexo masculino.

A mesma publicação afirma que no Brasil, não existem estatísticas atualizadas, mas acredita-se que os números não mudem muito. Segundo informações do site Autismo & Realidade (A&R), a taxa de pessoas que preenchem diagnósticos dentro do espectro do autismo está entre de 1 a 2 milhões (IBGE/2001).

O autismo está incluído nos Transtornos Globais do Desenvolvimento, os TGD e destes também fazem parte as Síndromes de Asperger, que ficou bastante conhecida após ser divulgado que o jogador argentino Lionel Messi é portador e de Rett, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.

Segundo a psicóloga Jaíra Pacheco, que acompanha o Arthur, e atende a crianças com idade a partir dos 2 anos e 5 meses diagnosticadas com o Espectro de Autismo, antes da criança ser auxiliada, muitas vezes as mães, os pais, precisam de atenção, de cuidado, porque chegam ao consultório bastante tensos.

“Eu vejo que muitas famílias ainda tentam esconder os filhos Autistas, como forma de superproteger, de evitar que alguém lhe aponte o dedo, que sofra preconceito. Isso não é bom porque a criança, a pessoa autista, tem problema de interação? Tem, mas ela precisa ser estimulada, ser inserida no meio social”, explicou a psicóloga.

O'hanna com a psicóloga Jaíra Pacheco

Foi exatamente isso que fez O’hanna. Além de ter um diagnóstico precoce, que possibilitou o início rápido do tratamento, O’hanna e Arthur estão nas redes sociais através do perfil no Instagram @caleidoscopiodedois e ela explica: “Caleidoscópio quer dizer conjunto de coisas que se sucedem, mudando constantemente e que a cada momento apresenta combinações variadas e interessantes. Assim é o Arthur, sempre mudando e nos surpreendendo. Antes de ser Autista, é meu filho, antes de ser Autista, é uma criança como qualquer outra. Não, não como qualquer outra. Ele é a melhor criança pra mim”, disse ela na primeira postagem do perfil. Lá, O’hanna conta como soube do Autismo do Arthur, das dúvidas e principalmente, da esperança de tê-lo melhor a cada dia. 

Não somente os acompanhamentos multidisciplinares são responsáveis pelas conquistas do Arthur, toda a família vive em função de estimulá-lo: “é 70% família e 30% os acompanhamentos”, O’hanna faz questão de ressaltar. 

Após seis meses do início do tratamento e já apresentando consideráveis mudanças, Arthur voltará à Neuropediatra para nova avaliação. “Só é possível fechar o diagnóstico do grau ou classificação do Autismo aos cinco ou sete anos de idade”, disse O’hanna.

Comentários
Silvanira Hipolito
15/04/2016 19:24:06
Vi a reportagem e gostei muito porque tambem tenho.um filho autista de tres anos.Pensei em fazermos um grupo de pais de criancas autistas aqui em Picos.